Cultura

Amazonas recebe sete grupos musicais indígenas da turnê Sonora Brasil

Por Kátia Brasil Publicado em: 09/08/2019 às 16:13

Shows começam hoje em Manaus com os grupos Dzubucuá, do povo Kariri-Xocó, de Alagoas (na foto), e Memória Fulni-ô, do povo Fulni-ô, de Pernambuco, além de Djuena Tikuna e banda (Imagem Pitawã/Sesc)

Manaus (AM) – Conhecido por ser o maior projeto de circulação musical do país, o Sonora Brasil, em sua 22ª edição, tem como um de seus temas principais “A Música dos Povos Originários do Brasil”. Entre as atrações da turnê estão representantes dos povos Mbyá-Guarani (RS), Kaingang (RS), Paiter Surui (RO), Kariri-Xocó (AL), Fulni-ô (PE), Karitiana (RO) e Tikuna (AM). Entre hoje (9) e dia 14 de agosto os grupos se apresentarão nos teatros Instalação, Les Artistes Café e Amazonas, em Manaus, e no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Parintins.

“A gente acredita que esse projeto modifica um pouco o pensamento de algumas pessoas que não tenham conhecimento sobre a questão indígena”, afirma X’ Maya Kaká Fulni-ô, ao falar sobre a participação do grupo Memória Fulni-ô na turnê do Sonora Brasil.

Os primeiros grupos a se apresentar são Dzubucuá, do povo Kariri-Xocó, e Memória Fulni-ô, do povo Fulni-ô, hoje (9), às 19h, no Teatro da Instalação, em Manaus. E no dia 11 de agosto, também às 19h, no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Parintins.

Em comum, os grupos têm a relação entre a música e seus rituais sagrados. “Os torés são sons sagrados que meu povo usa para falar com o grande espírito, nos fortalecendo. Dentro do meu povo Kariri-Xocó é a primeira criação sagrada que expressa os sentimentos do coração”, diz Evanildo Kariri, representante do grupo.

Grupo Memoria Fulni-ô, de Pernambuco (Foto: Sesc)

Originários de Rondônia, os grupos Wagôh Pakob, do povo Paiter Surui, e Opok Pyhopok, do povo Karitiana, fazem os shows nos dias 10 de agosto, no Teatro da Instalação (Manaus) e no dia 12 em Parintins, novamente no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro.

O povo Paiter Surui, dividido em várias aldeias, habita a terra indígena Sete de Setembro, em Rondônia. Suas principais características musicais são o uso de instrumentos de sopro e maracas de tornozelo; as letras das suas músicas retratam narrativas heroicas ou cotidianas do povo.

Para os Karitiana, a música está ligada ao sagrado e à cura: “temos pajelança, músicas medicinais, tradicionais… Essas músicas são importantes para que as festas aconteçam na aldeia: festa da chicha, festa da caça, da jatuarana, entre outras. E essas músicas não são de hoje: são dos antepassados… E fazemos até hoje. Para nós, isso é muito importante: manter a cultura viva”, diz Pitana Karitiana.

Os Mbyá-Guarani estão representados pelo grupo Teko-Guarani, coral infantojuvenil da Aldeia Tekoa Anhetenguá, em Porto Alegre. Além das vozes, como principal característica, o grupo também utiliza instrumentos como o violão de cinco cordas, violino, chocalho e tambor. Também da região sul do país, de São Leopoldo do Sul (RS), vem o grupo Nóg gã, formado por indígenas de aldeias da etnia Kaingang, que tem como principal característica o uso de lanças de guerra como instrumento musical.

“Nesse momento estamos enfrentando, na conjuntura política atual, ameaças aos direitos dos povos indígenas, que estão garantidos na Constituição de 88. Por isso é muito importante essa participação no Sonora Brasil”, afirma o cacique Cirilo Guarani.

Os grupos Guarani e Kaingang se apresentam nos dias 11 de agosto, em Manaus, no Les Artistes Café Teatro. No dia 13, estarão em Parintins, no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, sempre às 19h.

Show de Djuena Tikuna no Teatro Amazonas, em 2017
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

As últimas apresentações da passagem da turnê Sonora Brasil pelo Amazonas serão do grupo Wyae (“canto”, na língua Tikuna), composto especialmente para o Sonora Brasil. O grupo é formado pela cantora amazonense Djuena Tikuna, o músico e fotógrafo Diego Janatã, Magda Pucci e Gabriel Levy. Os dois últimos são membros do grupo Mawaca (SP), que pesquisa e recria músicas de diversas culturas ao redor do mundo. O repertório apresentado no Sonora Brasil será composto por músicas da cultura Tikuna e releituras de sonoridades colhidas de outras etnias durante pesquisas.

“Acho que o Sonora Brasil está contribuindo muito [para fortalecer a luta dos povos indígenas], principalmente com esse governo que quer exterminar os povos indígenas. É um momento em que qualquer espaço é um espaço de fala”, disse Djuena.

Sobre a expectativa da passagem dos músicos indígenas pelo Amazonas, Djuena afirma que “é muito importante o momento de reconhecimento, troca e valorização”. “Eu espero muito que os parentes de Manaus tenham a sensibilidade de conhecer essas culturas. É muito importante a gente procurar ouvir e conhecer”, disse.

As apresentações do Wyae acontecerão nos dias 12 de agosto, no Teatro Amazonas (Manaus), às 20h; e em Parintins, no dia 14 de agosto, às 19h, no Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro.

Apresentações da turnê Sonora Brasil no Amazonas

Povos indígenas se apresentarão no Teatro Amazonas, em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Grupos Dzubucuá e Memória Fulni-ô

Dia 9 de agosto: às 19

Local: Les Artistes Café Teatro, no centro de Manaus

Dia 11 de agosto: às 19h

Local: Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Parintins

Grupos Wagôh Pakob e Opok Pyhopok

Dia 10 de agosto: às 19h

Local: Teatro da Instalação, no centro de Manaus

Dia 12 de agosto: às 19h

Local: Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Parintins

Grupos Teko-Guarani e Nóg gã

Dia 11 de agosto: às 19h

Local: Les Artistes Café Teatro, no centro de Manaus

Dia 13 de agosto: às 19h

Local: Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Parintins

Grupo Wyae (com Djuena Tikuna)

Dia 12 de agosto, às 20h

Local: Teatro Amazonas, no Largo São Sebastião, em Manaus

Dia de 14 de agosto: às 19h

Local: Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, em Parintins

A entrada dos shows é gratuita

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É conselheira da Énois Jornalismo, do Tornavoz e Projor. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e do Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])