A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

David e Golias na guerra florestal

Em apenas quatro anos, entre 2019 e 2022, foram desmatados 730 mil hectares de floresta na bacia do rio Xingu, que ocupa 53 milhões de hectares no Pará e em Mato Grosso. Há algumas décadas essa é uma das regiões […]

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 08/09/2023 às 11:33

Em apenas quatro anos, entre 2019 e 2022, foram desmatados 730 mil hectares de floresta na bacia do rio Xingu, que ocupa 53 milhões de hectares no Pará e em Mato Grosso. Há algumas décadas essa é uma das regiões mais devastadas da Amazônia, apesar de haver em suas margens áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação, criadas para formar um corredor de biodiversidade que conecta biomas. Essa proteção é ignorada pelo contínuo avanço de frentes econômicas ilegais, que ignoram a condição legal das terras pelas quais se infiltram atrás de algumas das árvores mais valiosas que ainda sobrevivem.

Para enfrentar essa situação e modificá-la, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, duas poderosas empresas de energia, a Energisa e a Norte Energia (que opera a maior hidrelétrica do país, Belo Monte, no Xingu), mais o Fundo Vale, da maior produtora de minério de ferro do mundo, lançaram no dia 5, em Belém, uma iniciativa.

Ela se insere no programa Floresta Viva, ela destinará até 26,7 milhões de reais para projetos de restauração de áreas degradadas e fortalecimento de cadeias produtivas da bacia hidrográfica do Xingu, na região amazônica.

Cada uma das empresas parceiras contribui com R$ 4,45 milhões, somando R$ 13,35 milhões. O BNDES destinará o mesmo valor como parte de um co-financiamento.

Segundo o BNDES, serão apoiados até nove projetos, a partir da elaboração e aprovação de diagnóstico e plano de restauração; implementação e monitoramento do plano de restauração e fortalecimento das cadeias produtivas associadas à restauração das áreas selecionadas. O prazo para execução dos projetos é de até 48 meses.

Patrícia Daros, diretora de Soluções Baseadas na Natureza da Vale, disse na ocasião que a adesão da mineradora ao Floresta Viva “se soma às ações que já empreendemos para alcançar nossa meta florestal de 500 mil hectares de conservação e proteção, fortalecendo estratégias que efetivamente preservam a rica biodiversidade da Amazônia”.

A bacia do rio Xingu “é fundamental para a Amazônia e para o Cerrado, para o clima e para os moradores dessas regiões, o apoio a projetos de restauração promoverá também um grande impacto positivo na socioeconomia da região”, ressaltou Manoel Serrão, superintendente de Gestão de Programas do Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), que vai dirigir o projeto.

Com a iniciativa, o BNDES espera chegar a um bilhão de reais em investimentos para restaurar entre 32 mil e 66 mil hectares e retirar até 18 milhões de toneladas de CO² da atmosfera.

Se cumprir sua meta em até 48 meses, como está previsto, a iniciativa representará 0,2% dos 740 mil hectares que foram desmatados no Xingu nos quatro anos entre 2019 e 2022. Equivalerá a 8% do desmatamento médio anual nesse período. Cada hectare recuperado de floresta custará R$ 18 mil. Se a meta fosse recompor os 730 mil hectares, o valor necessário chegaria a quase R$ 7 bilhões.

Desde 1985, data do primeiro levantamento realizado com o uso de imagens de satélite, até hoje, a Amazônia já perdeu 90 milhões de hectares de floresta. Esse valor equivale a 60% das florestas do Congo, o segundo país com mais florestas tropicais do planeta.

Esses números indicam que jamais a paralela da recuperação de floresta na Amazônia cruzará com a área de mata derrubada e/ou queimada. A não ser quando não houver mais floresta.

A foto deste artigo mostra área do rio Xingu, onde vive o povo Juruna, atingida por barragens (Foto: Cícero Pedrosa Neto / Amazon Watch)

Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.

* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

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Sobre a matéria

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.