Cultura

Manaus recebe filmes “Ex-Pajé” e “Piripkura”

Um pajé se vê obrigado a abandonar suas rezas e seu conhecimento espiritual para ser aceito em sua comunidade após a chegada de um pastor evangélico. Este é Perpera, um ex-pajé da etnia Paiter Suruí, cujo território fica entre […]

Perpera, um ex-pajé da etnia Paiter Suruí (Foto: Divulgação)

Por Elaíze Farias Publicado em: 16/05/2018 às 20:28

Um pajé se vê obrigado a abandonar suas rezas e seu conhecimento espiritual para ser aceito em sua comunidade após a chegada de um pastor evangélico. Este é Perpera, um ex-pajé da etnia Paiter Suruí, cujo território fica entre Mato Grosso e Rondônia. Sua história impactante é contada no filme “Ex-Pajé”, dirigido por Luiz Bolognesi, que será exibido pela primeira vez em Manaus, a partir desta quinta-feira (17), no Casarão das Ideias, no Centro da cidade. Nas duas sessões haverá um debate entre o diretor e o público presente. Os valores do ingressos são R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Outra história que retrata a realidade de um povo indígena em extrema vulnerabilidade é “Piripkura”, dirigido por Bruno Jorge, Mariana Oliva e Renata Terra. O filme será exibido no dia 16 de junho, no Museu da Amazônia, o Musa do Largo São Sebastião, que fica também no Centro de Manaus. A realização do evento é do Greenpeace e da Zeza Filmes. A entrada será gratuita.

“Ex-Pajé” foi premiado no Festival de Berlim deste ano com a Menção Honrosa do Glashütte Original Documentary Award. O filme tem como co-diretora a paulista Carolina Fernandes, que reside há dez anos em Manaus.

A sinopse diz que até o contato do povo Paiter Suruí com os brancos, em 1969, Perpera era um pajé poderoso. Após chegada dos brancos, um pastor evangélico afirma que pajelança é coisa do diabo e Perpera perde seu papel na comunidade onde vive, passando a viver com medo dos espíritos da floresta. Mas quando a morte ronda a aldeia, o poder de falar com os espíritos pode ser novamente necessário.

O filme vem recebendo elogios da crítica brasileira e internacional não apenas pela qualidade da produção, mas pela coragem de mostrar os efeitos da presença de missionários cristãos no cotidiano dos indígenas, já que muitos deles abandonam suas crenças para adotar uma nova religião.

É o caso de Perpera. Seus conhecimentos espirituais não são mais procurados por outros indígenas, que preferem tomar remédios industriais para cura de doenças.

Para não ficar sozinho e nem se sentir deslocado em sua comunidade onde predomina os ensinamentos do pastor, ele decide mudar sua forma de se vestir. Passa a usar roupas ocidentais, com camisa de manga comprida, gravata e calçar sapatos. Também frequenta cultos evangélicos, onde fica frequentemente calado, embora aceite contar sua história narrada no filme “Ex-Pajé”. O filme de Bolognese mistura elementos de documentários, com narrativas reais, com ficção, com os indígenas interpretando a si próprios em histórias relembradas por eles.

Os últimos Piripkura

Terra Indígena Piripkura (Foto:DadoCarlin/Divulgação)

“Piripkura” mostra a luta de um indigenista, Jair Condor, para salvar um povo quase à beira da extinção em Rondônia, vivendo em uma floresta pressionada pelo avanço do desmatamento, de madeireiras e de fazendas.

Jair Condor acompanha a movimentação de Pakyî e Tamandua, respectivamente tio e sobrinho, pelas florestas através de seus vestígios deixados em seus deslocamentos. Condor precisa fazer esse monitoramento periódico para comprovar que eles continuam vivos.

O filme venceu a categoria de Melhor Documentário no Festival do Rio, ano passado. Também foi premiado no Festival de Documentário de Amsterdã, na Holanda na categoria Direitos Humanos.

Programação:

Filme “Ex-Pajé”

Dias de exibição: 17, 18, 19 e 20

Horários: 16h30 e 20h30

Ingresso: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)

Local: Casarão das Ideias (rua Barroso, 279, Centro)

Filme Piripkura

Dia: 16 de junho (quarta-feira)

Horário: será anunciado ainda

Entrada gratuita

Local: Musa do Largo São Sebastião

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Elaíze Farias

Cofundadora da Agência Amazônia Real e editora de conteúdo. É referência em reportagens sobre povos originários, populações tradicionais, denúncias de violações de direitos territoriais e direitos humanos, crise climática, violências socioambientais e impactos de grandes empreendimentos na natureza e nas populações amazônicas. Entre as premiações recebidas, está o Prêmio Imprensa Embratel de 2013. Em 2021, foi homenageada no 16º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), junto com Kátia Brasil, também fundadora da Amazônia Real. Em 2022, recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog. É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM).