Juarez Silva Jr.

Sustentabilidade e transição justa

O primeiro termo é bem conhecido, mas o segundo você só deve conhecer se tiver passado antes pelo conceito de ecossocialismo. Sim ou não, sigamos o caminho para sua compreensão em contexto. Quando nos deparamos com “eco qualquer coisa” a […]

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 18/05/2022 às 16:43

O primeiro termo é bem conhecido, mas o segundo você só deve conhecer se tiver passado antes pelo conceito de ecossocialismo. Sim ou não, sigamos o caminho para sua compreensão em contexto.

Quando nos deparamos com “eco qualquer coisa” a primeira ideia é “meio-ambiente” e “ambientalistas”. Faz sentido, já que a associação entre ecologia, natureza e ambientalismo é comum e de fato existe, mas não se limita a isso.

Vamos para uma definição de ecossocialismo (ou socialismo ecológico) para visualizar uma dessas possibilidades:

“Segundo O’Connor, a meta do socialismo ecológico é uma nova sociedade fundada na racionalidade ecológica, no controle democrático, na igualdade social e na supremacia do valor de uso sobre o valor de troca [4]. Eu adicionaria as condições seguintes a fim de alcançar esses objetivos: a) a propriedade coletiva dos meios de produção (o termo “coletivo” aqui significa propriedade pública, comunitária ou cooperativa); b) um planejamento democrático que possa permitir à sociedade a possibilidade de definir seus objetivos no que concerne ao investimento e à produção e c) uma nova estrutura tecnológica das forças produtivas. Colocando de outra forma, uma transformação revolucionária em nível social e econômico [5].” (LÖWY,2019)

Michael Löwy, apesar do nome, é um importante ativista e teórico brasileiro e muito ativo, incontornável nessa temática. Pois bem, a partir do dito e compreendido podemos avançar para a tal “Transição Justa”.

O termo vem sendo muito usado no debate ecossocialista, notadamente pelo movimento sindical e deriva de uma premissa do acordo de Paris (de 2015) que segundo a Wikipédia “é um tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 ºC, preferencialmente em 1,5 ºC (até o fim do século) e reforçar a capacidade dos países de responder ao desafio, num contexto de desenvolvimento sustentável”.

Nesse sentido, o acordo visa “frear” e reverter as consequências climáticas derivadas do capitalismo e formas anti-ambientais e antissociais de produção, com uma transição para um paradigma mais sustentável, porém de uma forma justa para as populações afetadas por ela, em especial as classes trabalhadoras.

Exemplo, não basta ter ou trocar a matriz energética por uma mais “ambientalmente limpa” se isso além de não trazer benefícios práticos para as comunidades envolvidas trouxer problemas colaterais, como desemprego, desterramento “desvantajoso”, problemas sociais de outras ordens.

É aí nesse ponto que os esforços para essa transição justa por matrizes energéticas e econômicas mais sustentáveis demanda uma conscientização e medidas práticas envolvendo todos atores, o capital, os trabalhadores, seus movimentos sindicais, as comunidades, os ambientalistas e o poder público.

Acrescento ainda que esse pacto social não pode prescindir de uma alta mediação tecnológica sustentável, incluindo formas novas de governança mais democráticas, isto é, descentralizadas.

Já falamos sobre elementos relacionados à essa transição ou mudança de paradigma em vários textos passados aqui na coluna, o último foi o “Amazonas ecoedigital”, muito pertinente ao presente texto, principalmente ao ficar cada vez mais evidente a vulnerabilidade e anacronismo de uma matriz econômica como a atual, altamente dependente do modelo industrial da ZFM – Zona Franca de Manaus.

Sustentabilidade e transição justa, essa é a agenda urgente para o mundo e não menos aqui para a nossa Amazônia.

Referência:

Ecossocialismo Democracia e a nova sociedade (Michael Löwy)

A imagem que abre este artigo mostra uma jovem segurando um cartaz com os dizeres “SOS” (Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Juarez Silva Jr

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.