Meio Ambiente

Enchentes cancelam Carnaval em três cidades da Amazônia

Por Kátia Brasil Publicado em: 25/02/2014 às 20:23

As fortes chuvas na região sul da bacia amazônica e o aumento de famílias desabrigadas provocaram o cancelamento das festas oficiais do Carnaval, de 01 a 04 de março, nas cidades de Rio Branco (AC), banhada pelo rio Acre, Porto Velho (RO) e Humaitá (AM), ambas margeadas pelo rio Madeira.

A cheia anormal nestas regiões é consequência do volume de chuvas acima da média nas nascentes dos rios Acre e Madeira, que ficam na Bolívia e no Peru. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), as chuvas estão intensas em Rio Branco desde o mês de janeiro, quando choveu 512 mm (milímetros), 57% acima da média normal (325 mm). No mesmo período em Porto Velho choveu 416,4 mm, 20% maior que o índice normal (346,9 mm).

No Acre, o governador Tião Viana e o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre, ambos do PT, decidiram suspender o Carnaval na Arena da Floresta em razão do agravamento da enchente. A realização da festa foi remarcada para o início do mês de maio

O rio Acre atingiu nesta terça-feira (25) o nível de 14,03 metros em Rio Branco, a marca está longe da enchente história do ano de 1997 (17,66 m). A cidade está em alerta. Cerca de 330 famílias estão desabrigadas e alojadas. Mas, devido a inundação da rodovia BR-364, que liga Rio Branco a Porto Velho, e que está parcialmente interditada, passando apenas caminhões e carretas, ficou comprometido o abastecimento de alimentos e de combustível das capitais.

Em Porto Velho, o prefeito Mauro Nazif Rasul (PSB) anunciou o cancelamento do desfile das escolas de samba e dos blocos. Em decreto, ele considerou que as fortes chuvas trouxeram um clima de comoção à população. Cerca de 2.000 famílias foram retiradas das casas e levadas para abrigos. A enchente prejudicou também o transporte de grãos de soja por balsas, O porto da cidade está inundado, dificultando as operações das cargas. Os gastos com a ajuda humanitária as famílias atingidas pela cheia somam R$ 11,5 milhões

Segundo a Defesa Civil Municipal, na tarde desta terça-feira, o rio Madeira, em Porto Velho, marcou nível histórico de 18, 50 metros e continua subindo cerca de 15 centímetros por dia. É a maior marca em 47 anos de medicação do rio pelo Serviço Geológico do Brasil, órgão do Ministério de Minas e Energia. O quadro já é de calamidade pública, mas a prefeitura ainda prepara o decreto.

“Com o cenário que temos hoje, com as pessoas em risco que temos no médio e no baixo rio Madeira, seria um contrassenso a segurança assumir uma festa agora. Estamos mobilizados para atender mais famílias que precisam deixar suas casas”, disse o coronel José Pimento, coordenador da Defesa Civil de Porto Velho.

Na cidade de Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), a Defesa Civil do Amazonas disse que o Carnaval oficial também foi cancelado. Em situação de emergência, a cidade está praticamente isolada por via terrestre pelas inundações da rodovia BR-319, que liga Humaitá a Porto Velho. Trechos da estrada BR 230 (Transamazônica) prejudicam o tráfego de veículos em Humaitá, Manicoré e Apuí.

O capitão José Wilson, da Defesa Civil do Amazonas, disse que em Humaitá o rio Madeira marcou nesta terça-feira (25) nível de 24,11 metros. Lá, a enchente histórica aconteceu de 17 de abril de 1993 com a marca de 24,58 metros. No momento, 30 famílias estão abrigadas em escolas púbicas da cidade. Nesta quarta-feira, a Defesa Civil vai instalar barracas dentro de uma ginásio da cidade para abrigar mais famílias de comunidades ribeirinhas.

No Amazonas, enchentes atingiram mais de 25 mil pessoas (Foto: Defesa Civil)

No Amazonas, de acordo com a Defesa Civil Estadual, as enchentes afetaram 25.062 pessoas. Além de Humaitá, estão em situação de emergência as cidades de Guajará, Ipixuna, Boca do Acre, Envira e Lábrea. Os municípios de Pauini e Manicoré estão em alerta máximo. Já as cidades de Canutama, Novo Aripuanã, Eirunepé estão em atenção.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É conselheira da Énois Jornalismo, do Tornavoz e Projor. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e do Coletivo Mães Pela Diversidade ([email protected])