Política

Artigo 19 realiza encontro sobre internet, direitos e comunicação, em Manaus

O evento reuniu comunicadores e estudantes da capital amazonense e de Cruzeiro do Sul e Marechal Thaumaturgo (AC), Porto Velho (RO) e Belém (PA) Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real Manaus (AM) – Promover o aprendizado das tecnologias digitais para garantir […]

Manaus, AM 28/09/2019 - Encontro de Comunidades - Internet, direitos digitais e comunicação. Promovido pelo Artigo 19, Amazônia Real e Prodam. (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Por Izabel Santos Publicado em: 03/10/2019 às 15:52

O evento reuniu comunicadores e estudantes da capital amazonense e de Cruzeiro do Sul e Marechal Thaumaturgo (AC), Porto Velho (RO) e Belém (PA)

Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real

Manaus (AM) – Promover o aprendizado das tecnologias digitais para garantir a defesa da liberdade de expressão, o acesso à informação e os direitos humanos à jovens comunicadores e estudantes da Amazônia foram os objetivos do primeiro “Encontro de Comunidades – Internet, direitos e comunicação”, realizado pela organização Artigo 19 Brasil em parceria com a agência Amazônia Real, Prodam (Processamento de Dados do Amazonas) e Casa do Rio. O evento, que aconteceu nos dias 28 e 29 de setembro, na sede da Prodam, em Manaus, contou com a participação de 26 pessoas, entre elas, 19 alunos de cidades como Manaus (AM), Cruzeiro do Sul e Marechal Thaumaturgo (AC), Porto Velho (RO) e Belém (PA).

Durante as oficinas, os alunos tiveram as seguintes rodas de conversa: “A internet, comunicação e liberdade de expressão” com a professora Tanara Lauschner, diretora do Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam); “Comunicação Amazônica em tempos digitais”, com a jornalista Kátia Brasil, editora-executiva da agência Amazônia Real; “Violência de gênero online contra comunicadores”, com a educadora popular Barbara Heliodora, do Programa de Proteção e Segurança da Artigo 19 Brasil; “Impactos Socioambientais e Tecnologias Digitais, com a antropóloga Thaís Brito, do Cine Kurumim da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e “Internet, direitos digitais e comunicação”, com Paulo José Lara, assessor do Programa de Direitos Digitais da Artigo 19 Brasil.

Paulo José Lara, assessor do Programa de Direitos Digitais da Artigo 19 Brasil
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

A Artigo 19 é uma organização não-governamental de direitos humanos criada em Londres, na Inglaterra, em 1987. Presente no Brasil desde 2007, sua missão é defender e promover o direito à liberdade de expressão e o acesso à informação. O nome da instituição tem origem no 19º artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

O “Encontro de Comunidades” foi aberto no sábado (27) com as presenças do diretor técnico da Prodam, Heleno dos Santos Ferreira e, de Paulo José Lara, Rafaela Alcântara e Bárbara Heliodora, do Artigo 19 Brasil, de Kátia Brasil, Elaíze Farias e Alberto César Araújo, os três últimos editores da Amazônia Real, e de Thiago Azambuja, da Caso do Rio.

“Acho que o encontro realizado em Manaus foi muito forte e produtivo, pois contamos com a presença de gente muito batalhadora e interessada nos temas abordados e, principalmente, muito disposta ao processo de ensino e aprendizagem, e dispostos a ganhar experiência”, analisa Paulo José Lara. “Além disso, todos e todas se sentiram muito bem acolhidos na cidade. Houve uma troca mútua e um carinho muito grande, o que nos possibilitou cobrir um leque grande de temas relativamente complexos e presentes na realidade cotidiana deles. Ouvimos exemplos de lutas e experiências importantes relacionados à liberdade de expressão, direitos humanos, direitos digitais e internet, o que foi motivador para todos nós”, acrescenta.

Tecnologias na defesa dos direitos

José Sarmento, de Manaus, Viviany Matos, de Belém, Antônio Lima, o Roxo, de Cruzeiro do Sul (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Em sua palestra sobre “Comunicação Amazônica em tempos digitais”, a jornalista Kátia Brasil destacou a importância da tecnologia digital para os povos tradicionais, que usam celulares para comprovar, através de fotos e vídeos, denúncias de invasões dos territórios, desmatamentos e violações dos direitos humanos. “A cada dia, as pessoas que vivem em áreas remotas têm mais consciência do poder que a imagem e a informação têm. E esse é justamente, através dessa tecnologia, o acesso à mídia que dar visibilidade àqueles que não têm voz, que são negligenciados pelo poder público”, disse Kátia Brasil.

A antropóloga Thais Brito, que falou sobre “Impactos Socioambientais e Tecnologias Digitais”, disse que a tecnologia utilizada nos conteúdos audiovisuais também funciona como um resgate da memória em casos consolidados de destruição do patrimônio natural, como é o caso do rio Xingu, no Pará.

“Tem uma grande área no Xingu que vai secar por causa da obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. As imagens feitas do local antes desse evento vão servir para as próximas gerações, para que elas vejam como era o local onde viviam os seus ancestrais”, diz Thais.

Jovens empreendedores

Encontro de Comunidades – Internet, direitos digitais e comunicação, em Manaus
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

O evento contou com as participações de comunicadores populares, entre eles: as lideranças Maria Jacinta Moreira da Silva e Antônio Barbosa de Lima, mais conhecido como Roxo, representantes do projeto Fonias Juruá da Reserva Extrativista (Resex) Alto Juruá, no Acre; a jornalista Ariene Susuí, assessora de Comunicação do Conselho Indígena de Roraima (CIR); os representantes da Rádio Floresta Jonys Ferreira de Moraes, Huanderson Oliveira da Silva e Alexandra Guimarães Brito; da apresentadora do Programa Espaço Mulher, Taly Nayandra, da Rádio Comunitária A Voz das Comunidades, de Manaus.

Também participaram do “Encontro de Comunidades – Internet, direitos e comunicação”, realizado pela Artigo 19, a jornalista Vivianny Matos, colaboradora da Amazônia Real em Belém (PA); os estudantes Bitate Uru-Eu-Wau-Wau, liderança do povo Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia, Vitor Venino Rocha Ribeiro, Cézar dos Santos Sarmento, representante do Centro de Medicina Indígena Bahserikowi´í, Samela Marteninghi Sataré Mawé, Vanda Witoto e Rucian da Silva Vilacio, do Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas (Meiam). Pela Prodam, participaram do evento a estudante de jornalismo Bianca de Souza, a relações públicas Isabela Catarino, o técnico judiciário Renan Rotondano, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), e Márcia Rodrigues, da equipe de produção do Artigo 19.

A bióloga Taly Naiandra, integrante da rádio comunitária A Voz das Comunidades, que pode ser ouvida em bairros da zona Leste de Manaus, acredita no fortalecimento da comunicação como maneira de garantir direitos fundamentais.

“No período de pós-verdade em que vivemos, a internet é uma ferramenta muito importante no combate às fake news, pois pode unir e conectar pessoas interessadas em fazer uma boa comunicação, seja em portais ou webrádios. Inclusive. Vou levar para a nossa rádio muitas ideias que foram debatidas aqui e que acredito que possam resultar em iniciativas positivas para as comunidades periféricas de Manaus abrangidas por ela”, avalia Nayandra.

O Encontro de Comunidades também discutiu o tema violência de gênero na internet
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Maria Jacinta Moreira da Silva e Antônio Barbosa de Lima, mais conhecido como Roxo, atuam no projeto Radio Fonias, que pretende se conectar através de ondas de rádio as cerca de 5 mil pessoas que moram nas comunidades dentro da Resex Alto Juruá, que fica em Marechal Thaumaturgo (AC). O objetivo da iniciativa, que começou em 2011 mas só foi implantado em 2014, é conseguir transmitir mensagens de voz (áudios), textos e imagem a pontos espalhados pela reserva, que hoje conta com nove efetivamente instalados.

“O projeto é uma demanda dos moradores das próprias comunidades para resgatar a nossa vivência e fortalecer a nossa comunicação. Assim vamos poder disseminar informações sobre cultura, saúde e outras informações úteis”, explica Jacinta.

“Em todo lugar tem gente precisando de ajuda e essa conectividade nos aproximarmos. A radiofonia é uma tecnologia que transforma o sinal de rádio em sinal digital e transmite os dados através das antenas espalhadas nas comunidades. Pra gente, é uma alegria ver as pessoas se comunicando”, afirma Antônio Lima, o Roxo.

A Rádio Floresta nasceu como uma iniciativa alternativa aos meios de comunicação existentes no município do Careiro Castanho, no quilômetro 112 da BR-319. Apoiada pela organização Casa do Rio, 15 jovens estudantes, entre eles, Jonys Ferreira de Moraes, Huanderson Oliveira da Silva e Alexandra Guimarães Brito. Eles contaram no “Encontro de Comunidades” que colocaram o projeto em atividade há nove meses através da página da rádio no Facebook. Atualmente, o veículo conta com 12 programas fixos na grade. Eles desenvolvem temas como empreendedorismo, agroecologia e educação com jovens, mulheres e crianças, entre outros.

“A comunicação é uma forma de alternância de poder”, analisa o coordenador da Casa do Rio, Thiago Azambuja. “Nesse evento, vimos formas de resistência através da comunicação. Mas uma das coisas mais importantes que aprendemos é que precisamos fortalecer as pequenas redes para que elas se unam a outras e fiquem mais robustas”, afirmou.

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) tem formado comunicadores indígenas nas tecnologias digitais para dar visibilidade às questões da saúde, educação, meio ambiente, entre outras. Segundo a jornalista Ariene Susuí Wapichana, o CIR também produz um informativo online divulgados no site e nas redes sociais da instituição.

“Gostei muito de ouvir sobre as experiências de pessoas que estão em outras comunidades, que usam métodos e técnicas alternativas. Saio daqui com muitas ideias e cheia de esperança”, destaca Ariene sobre o “Encontro de Comunidades”, em Manaus.

O estudante de jornalismo e teatro Vitor Rocha, criador do canal do YouTube Goela Cabana, disse que a internet permite estabelecer conexões com pessoas que pensam e que têm objetivos parecidos. “Nos permite conectar com as manas, com as drags, com todos. Aqui, nós podemos nos entender e nos apoiar, amplificar o sentimento de pertencimentos e nos aquilombar, para mostrar que estamos aqui e queremos ser ouvidos”, diz o aluno.

No canal Goela Cabana, o jovem dá espaço a pautas urbanas invisibilizadas pela grande mídia como a Marcha da Maconha. Sobre o “Encontro de Comunidades”, o aluno avalia que eventos como esse promovem diálogos e nos dão a oportunidade de ver que não estamos sós. “A tecnologia nos inspira e nos ajuda a fazer melhor”, concluiu Vitor Rocha.

A organização Artigo 19 promove a discussão sobre internet, direitos digitais e comunicação
(Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])