Juarez Silva Jr.

O “troca-troca” de cores na eleição 2020

Recentemente, foi notícia na grande imprensa a aprovação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de uma Ação Afirmativa visando fomentar e viabilizar as candidaturas negras e, consequentemente, ampliar a representatividade dessa população sabidamente sub-representada na vida política do país. Não se […]

Eleições 2020 - urna eletrônica (Foto Antônio Augusto/Ascom/TSE)

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 07/10/2020 às 16:13

Recentemente, foi notícia na grande imprensa a aprovação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de uma Ação Afirmativa visando fomentar e viabilizar as candidaturas negras e, consequentemente, ampliar a representatividade dessa população sabidamente sub-representada na vida política do país. Não se trata de cota fixa, como no caso das mulheres, mas de uma redistribuição proporcional do tempo de propaganda gratuita e da verba partidária para as campanhas dos candidatos autodeclarados pretos e pardos. O TSE tinha decidido que a regra valeria para as eleições de 2022; porém, o Ministro Ricardo Lewandovski, do STF, determinou a validade já para as eleições de 2020.

Não por coincidência, as últimas notícias dão conta que essa eleição, com mais de 500 mil pedidos de registro, bateu o recorde de mulheres e, pela primeira vez, tem mais negros que brancos na disputa. Isso não quer dizer que houve uma mudança radical. O percentual de brancos em relação a 2016 reduziu-se em 3 pontos percentuais, ou seja, para 47%; o de pardos subiu de 39% para 40% e de pretos passou de 9% para 11%, perfazendo então uma maioria negra de 51%.

Dos números, pode-se deduzir que não era inexistente ou muitíssimo sub-representadas as candidaturas negras. Então qual era o problema? O mesmo da candidatura de mulheres. Inicialmente, sem um redirecionamento diretamente proporcional da verba e do tempo de propaganda, essas candidaturas tinham baixa competitividade em relação às hegemônicas, no caso as de homens brancos endinheirados e de maior capital político.

Agora, um número chama a atenção e mostra que a “estabilidade cromática” não é bem assim. Levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, com base nos registros disponibilizados pela Justiça Eleitoral, indicam que, dos candidatos que disputaram em 2016 e estão na disputa novamente, pela matéria ao menos 21 mil mudaram de cor. Isso representa 26% desse total ou seja, um em cada quatro candidatos, dados mais atualizados já dobraram esse número.

É interessante observar que o grande deslocamento se deu na categoria pardo que, oficialmente, junto com os autodeclarados pretos, fazem parte da população negra. Entre esses, 36% passaram a se declarar pretos, ou seja, “escureceram”, e 30% se declararam brancos, ou seja, clarearam.

Para além dos recursos de tempo de propaganda e verba, outras avaliações estão pesando nessa alteração. Alguns devem estar apostando na tendência de aumento da representatividade negra e de olho nesse voto, se “cacifando”. Por outro lado, muitos estão apostando que nestes tempos de recrudescimento do racismo e posicionamentos à direita na população, ir na direção do “privilégio branco” pode render mais, dependendo do seu nicho eleitoral.

Com a aprovação pelo STF da validade da nova regra já para 2020, e com a campanha iniciada, além das já tradicionais bizarrices das eleições municipais, vamos ver mais algumas por conta desse novo contexto. Bom, pelo menos aqui pelo nosso querido Amazonas, uma coisa é quase certa: nas eleições sempre tem pelo menos um “negão”.

A imagem que ilustra este artigo mostra uma urna eletrônica em teste para as eleições de 2020 (Foto Antônio Augusto/Ascom/TSE)

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.

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Reportagem Noticiosa

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Juarez Silva Jr

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.