Amazônia Realidade

Agenda de Junho tem Piripkura, Migrantes, Casa de Ísis e Tacacá na Bossa

Junho é um mês repleto de festas juninas, mas também é necessário debater sobre as questões da Amazônia, especialmente as que tangem os povos indígenas e a atual migração de estrangeiros à região, como os haitianos e venezuelanos. De […]

O longa “Piripkura” é uma produção da Zeza Filmes (Foto: Divulgação)

Por Kátia Brasil Publicado em: 11/06/2018 às 16:58

Junho é um mês repleto de festas juninas, mas também é necessário debater sobre as questões da Amazônia, especialmente as que tangem os povos indígenas e a atual migração de estrangeiros à região, como os haitianos e venezuelanos.

De 12 a 24 de junho, o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) da Arquidiocese de Manaus realiza a 33ª Semana Nacional do Migrante 2018. Na programação tem debates, rodas de conversas, apresentação de filmes e curtas metragens, além da Festa Cultural na Quadra da Paróquia São Geraldo, na zona centro-sul da cidade.

Destacamos também nesta Agenda Cultural de Junho: a festa de 20 anos da Casa de Ísis, no dia 15 de junho, que fará o espetáculo de dança do ventre Oásis Amazônico, em parceria com o grupo Raízes Caboclas e a bailarina Ana Mendes; a programação mensal do Tacacá na Bossa com as apresentações das bandas All That Jazz, The Stone Ramos e o reggae da Canhamukaya; e a exibição do filme “Piripkura” no dia 16 de junho, no auditório do Museu da Amazônia (Musa).

Na programação de exibição de “Piripkura” haverá um debate com as participações da diretora Mariana Oliva e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Greenpeace. O debate será mediado pela jornalista Kátia Brasil, editora-executiva da agência Amazônia Real.

Dirigido por Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge, o longa “Piripkura” é uma produção da Zeza Filmes, associada à Maria Farinha Filmes e Grifa Filmes. “Piripkura” acompanha Jair Candor, funcionário da Funai que tenta provar a existência dos últimos indígenas do povo isolado Piripkura, Pakyî e Tamandua. O monitoramento da movimentação dos indígenas é fundamental para que suas terras não sejam tomadas pelo desmatamento. A reportagem da Amazônia Real entrevistou os diretores do filme, Renata Terra e Bruno Jorge. Confira abaixo:

Amazônia Real – Como a história dos Piripkura foi descoberta pela produção?

Renata Terra – No final de 2013, fomos gravar um encontro de formação de novos indigenistas para atuarem nas Frentes de Proteção Etnoambiental da Funai. Esses profissionais são responsáveis por proteger e monitorar os territórios habitados por índios isolados ou de recente contato. Nesse encontro, conhecemos Jair Candor, chefe da Frente de Proteção Madeirinha-Juruena, que nos falou sobre os Piripkura e sobre sua vontade de contar a história deles. A nossa empatia e admiração pelo trabalho do Jair foi imediata e tudo o que contou sobre os Piripkura nos atravessou de uma maneira muito forte.

Depois deste primeiro contato partimos para uma pesquisa mais aprofundada e para a formatação do projeto. O Canal Curta! se interessou pela proposta e apoiou integralmente a realização do filme. Depois foi mais um bom tempo para conseguir a autorização de ingresso na terra indígena junto à Funai para podermos iniciar as filmagens.

Amazônia Real – Quanto tempo a equipe acompanhou Jair Candor na floresta e quais foram os desafios?

Renata Terra – Foram duas viagens na floresta, no período de um ano, e uma viagem para a Terra Indígena Karipuna, onde Rita, a terceira sobrevivente deste povo que se tem notícia, vive parte do tempo com seu marido Aripã Karipuna. As duas viagens de expedição na floresta aconteceram de acordo com o cronograma de expedições da frente de proteção. Nós nos adaptamos ao planejamento do trabalho da equipe da Funai e suas exigências.

Filmar na Floresta Amazônica é sempre difícil. A floresta é uma imensidão e cheia de surpresas e desafios. Além das questões técnicas como equipamentos que sofrem com a umidade, ausência de locais para carregar baterias, peso do equipamento e outros, ainda tivemos a dificuldade de acompanhar o ritmo dos sertanistas da Funai. Como nossa linguagem é bastante observacional, acompanhar o ritmo deles era essencial para captar algo mais próximo da realidade do trabalho de campo que eles realizam.

Amazônia Real – Em algum momento vocês chegaram a acreditar que Pakyî e Tamandua não apareceriam?

Renata Terra – Desde o princípio a ideia era acompanhar o trabalho do Sr. Jair e da frente de proteção. A possibilidade de encontro com Pakyî e Tamandua existia, mas era remota, uma vez que o próprio trabalho da Funai não busca o encontro com os indígenas e sim monitoramento de vestígios e proteção da área. Portanto, nossa intenção inicial era montar as imagens das expedições com imagens e informações de arquivo.

Mas a partir deste presente do acaso, da oportunidade de registrar o encontro com Pakyî e Tamandua pela iniciativa dos dois de se aproximarem da base, o filme se transformou e foi construído para trazer a força deste encontro.

Amazônia Real – Quais foram as suas impressões ao se deparar com indígenas isolados em risco de extinção?

Bruno Jorge – Impressões de que todo conhecimento mediado que tinha a respeito de cultura indígena diminuía sua importância perante o fato do que ocorria naquele momento, que não sabia quanto tempo ia durar: eu me encontrava ali com dois homens que viviam em desconexão total com o mundo das cidades. Eu via duas pessoas que mantinham essa distância (afinal de contas, quem está isolado de quem?) para só assim continuar a estabelecer suas outras conexões devidas, sejam elas com elementos da Natureza, com o espaço físico e sonoro ou mesmo a relação fabular com a vida. Depois disso, correr para um smartphone e compartilhar minha experiência para as redes me pareceu de um contrassenso estarrecedor.

Amazônia Real – Como eles reagiram aos equipamentos e produção da filmagem?

Bruno Jorge – Interessante como essa pergunta – importante, diga-se de passagem – sempre aparece. Acredito que acharmos curioso que alguém possa reagir a uma câmera diferente do senso comum fala muito mais sobre nós e sobre nosso senso comum do que sobre esse alguém.

Nossa sociedade foi construída a partir do fomento a dependência psíquica-emocional que temos com relação ao Outro da engrenagem social. Pakyî e Tamandua não davam a mínima para minha câmera ou para o microfone de meu parceiro Rodolfo. Cheguei, claro, no gesto clichê de mostrar a eles suas respectivas imagens na tela da câmera para ver como “reagiam”, e logo senti vergonha de mim. Nossos aparatos não intermediavam nossas relações, que eram entre eles, os sertanistas e nós dois, e era eu o incapaz de entender tudo isso. Me dei conta ali de quem mesmo poderia ser o “isolado” naquele instante.

Amazônia Real – Qual é a contribuição de “Piripkura” no cinema de impacto social?

Renata Terra – Os direitos dos povos indígenas nunca foi prioridade na história do Brasil. A precariedade das políticas públicas perpassa diversos governos, apesar do governo atual ter precarizado de forma muito grave a já frágil situação.

Compartilhar a história de violência perpetrada contra o povo Piripkura e também abordar sua força de resistência, abrindo espaço para propor uma reflexão sobre nossa forma de estar no mundo, das escolhas que temos feito como sociedade, em um modelo em que a destruição tem prevalecido, foi algo que nos motivou a fazer esse filme. Precisamos aprender com os povos indígenas para transformar nossa relação de devastação e destruição do meio ambiente.

O encantamento das pessoas com Pakyî, Tamandua e da Rita, e o reconhecimento da importância do trabalho realizado pelo Sr. Jair, tem sido muito emocionante e tem atravessado fronteiras culturais e geográficas.

Confira e agende-se em Manaus

Semana do Migrante

Imigrante haitiano trabalhando em fábrica de reciclagem em Manaus (Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real)

Com o tema “A vida é feita de encontros” e o lema “Braços abertos sem medo para acolher”, em sintonia com o Papa Francisco, a campanha pelo Dia Nacional do Migrante deste ano propõe uma reflexão a partir de quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. De 12 a 24 de junho o Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM) da Arquidiocese de Manaus realizam a 33ª Semana Nacional do Migrante 2018. Na programação haverá missas, debates, roda de conversas, apresentação de filmes, curta metragem e a Festa Cultural na Quadra da Paróquia São Geraldo, na zona centro sul da cidade.

Quando: de 12 a 24 de junho

Contatos com a coordenação da 33ª Semana Nacional do Migrante:

E-mail: [email protected]

Telefone: 092 – 98198-8565 (Rosana Nascimento)

Programação de junho do Tacacá na Bossa

A banda The Stone Ramos (Foto divulgação)

Com shows todas as quartas-feiras, o Tacacá na Bossa traz apresentações de artistas locais, tradicionalmente no Largo São Sebastião. Na programação de junho se apresentarão a banda All That Jazz e o cantor Higor Filho (dia 13), a banda de brega The Stone Ramos e o reggae da Banda Canhamukaya (20), além de Rubens Bindá & Beiradão Reciclado (27).

Local: Largo de São Sebastião (ao lado do Teatro Amazonas), no Centro de Manaus.

Data: todas as quartas-feiras de junho

Horário: a partir das 19h

Curso sobre as PANCs

Plantas AlimentÃcias NÃ£o Convencionais (PANC)

O Movimento Slow Food Manaus vai realizar um curso prático para a identificação de mais de 40 espécies de plantas alimentícias da Amazônia. Chamadas de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), no curso haverá discussão sobre as preparações, criação e compartilhando receitas. O objetivo do curso é aprender mais sobre essas plantas e enriquecer seus conhecimentos e sua alimentação (Foto do site Faz Fácil plantas&jardins).

Local: Laboratório de Nutrição do INPA

Data: 14/06

Hora: 12:30 às 17h

Informações: 98155-3370/99425-3155

[email protected]

Espetáculo Oásis Amazônico

A escola é conhecida nacionalmente (Foto: Casa de Ísis)

Em comemoração aos 20 anos de sua existência, a escola de dança do ventre Casa de Ísis apresenta, na noite do dia 15 de junho, o espetáculo Oásis Amazônico, em parceria com o grupo Raízes Caboclas e a bailarina Ana Mendes. A escola é conhecida nacionalmente por ter sido a primeira a misturar danças regionais à dança do ventre. Maíse Ribeiro, fundadora da escola explica a relação entre a dança amazônica e a árabe, de acordo com sua pesquisa: “trata-se, na minha concepção, de duas danças circulares que se encontram na mesma estrutura”.

Espetáculo Oásis Amazônico – Uma paisagem sonora

Local: Teatro Amazonas – Avenida Eduardo Ribeiro, Centro

Data: 15 de junho (sexta-feira)

Horário: 20h

Entrada Franca

Filme “Piripkura”, no MUSA

Terra Indígena Piripkura, no estado do Mato Grosso (Foto: DadoCarlin/Divulgação)

O filme “Piripkura” será exibido no Musa do Largo São Sebastião, no dia 16 de junho. Em seguida à exibição, acontecerá um debate com uma das diretoras do filme, Mariana Oliva, e representantes da Funai e do Greenpeace. “Piripkura” foi premiado no Festival de Cinema do Rio como melhor longa-metragem documentário, e recebeu também, no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã, o prêmio de direitos humanos. Como abertura do evento, será exibido o curta-metragem “Pés de Anta – As cineastas Munduruku”, realizado e produzido pela Amazônia Real.

Local: Museu da Amazônia do Largo de São Sebastião (MUSA do Largo)

Data: 16 de junho (sábado)

Horário: a partir das 14h30

Entrada Gratuita

Diálogos da partidAmazonas

A 6ª. Roda de Conversa tem como tema: Mulheres Migrantes: cidadania e políticas públicas. Com as participações da Procuradora da República no Amazonas, Michèle Diz Y Gil Corbi, coordenadora do Comitê de Raça e Gênero do Ministério Público Federal, da advogada e representante da Pastoral do Migrante, Dessana Paiva de Oliveira, do Projeto Setor de Proteção Legal e Social aos Migrantes das Cáritas e Acnur, e da facilitadora Isabela Sales, assessora Jurídica do 5º. Ofício do Ministério Público Federal no Amazonas. O evento contará com as presenças de migrantes haitianas e venezuelanas.

Quando: dia 23 (sábado)

Horário: das 14h às 17h

Local: Auditório do Museu da Amazônia (MUSA), no Largo São Sebastião, no Centro de Manaus.

Entrada franca

Contato: 092 9 8207- 5542

Clube das Manas debate Educação e Feminismo

A edição de junho do clube de leitura do Instituto Mana terá como tema a educação feminista, baseando-se no livro “Para Educar Crianças Feministas – Um Manifesto”, da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, hoje um dos maiores nomes do feminismo na literatura. O evento acontece no dia 28 de junho, na Livraria Leitura, do Amazonas Shopping.

Quando: 28 de junho

Horário: 19h

Local: Livraria Leitura do Amazonas Shopping – Av. Djalma Batista 482 – Parque 10 de Novembro

Informações do evento: https://www.facebook.com/events/2040917132813162/

Mande sugestões de eventos nas cidades amazônicas para o e-mail: [email protected]

*Maria Cecília Costa participa do Projeto de Treinamento em Jornalismo Independente e Investigativo da Amazônia Real. É estudante do 7º. Período do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou nas TVs Educativa e Cultura e nos jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 1o. lugar Região Norte do Prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade em defesa das pessoas LGBTQIAPN+. ([email protected])