A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

“Humanistas”, eles

Depois de ter uma conversa “amistosa” com Jair Bolsonaro, hoje (16), o ex-quase-passado ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta deu a sua definição sobre o presidente da república do Brasil: é um “humanista”. Os jornalistas à ilharga do […]

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante a coletiva de imprensa sobre à infecção pelo novo coronavírus

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 16/04/2020 às 20:35

Depois de ter uma conversa “amistosa” com Jair Bolsonaro, hoje (16), o ex-quase-passado ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta deu a sua definição sobre o presidente da república do Brasil: é um “humanista”.

Os jornalistas à ilharga do quase despachado ministro, como de outros personagens emplumados de Brasília, dizem que ele lê muito, é culto, bem informado. O que ele entende por humanismo é um conceito tão preciso quanto as atitudes que teve no turbilhão dessa crise de lamentável ópera bufa, travada em canto e contracanto desafinado (mas com sinais de ensaio – incompetente, é verdade) com o “humanista” Bolsonaro.

Ele é humanista porque está preocupado com os empregos dos trabalhadores e, mais especificamente, com a precária e incerta renda dos trabalhadores informais. A régua de medir essa sensibilidade é a fiscal.

O que vai para o bolso dos desassistidos, ignorados, excluídos, marginalizados e tudo mais de discriminação em tempos normais, sem pandemia, é o que sai do cofre do tesouro.

Nessa bomba de abastecimento monetário, o presidente já viu o sinal de alerta. Quer parar a “sangria” dos miseráveis 600 reais, que já engoliram R$ 600 milhões. Na matemática frívola de sua excelência, humanista de fôlego curto, a conta logo estará em um trilhão de reais. É pecado mortal, dissipação, desperdício.

O alcance desse humanismo é exíguo, principalmente se comparado aos cifrões de bilhões de reais dirigidos aos empreendedores, que garantem os empregos na retórica e demitem na prática para obter o retorno à plenitude do lucro sobre a remuneração do emprego, com seu canto de cisne da sobrevivência e do progresso através do trabalho.

O humanismo não pode ser absoluto e teórico. Há circunstâncias que o limitam e estreitam. Num momento de guerra como o atual, quando o combate é contra um inimigo invisível e mortal, o ápice do humanismo é a preservação da vida.

O próprio quase-ministro, que já está no cargo sem ter sido empossado, nessa opereta mambembe dirigida por interesses políticos, nessa trágica marca das horas graves no Brasil, admitiu eu o isolamento social é o melhor instrumento para poupar vidas.

Se o presidente se apieda dos pobres, o que deve fazer é subsidiar sua difícil permanência na quarentena, o que só é possível desviando dinheiro público das imensas sociedades anônimas, que já dispõem de crédito abundante subsidiado, para as famílias sem condições de se sustentar no afastamento da sua atividade econômica.

Do contrário, o humanismo de Bolsonaro é uma invenção do oportunismo de Mandetta. Um vale o outro. Os brasileiros que tratem de si, de mãos dadas e olhos bem abertos.

Luiz Henrique Mandetta foi substituído pelo médico Nelson Teiche.

A foto de Luiz Henrique Mandetta é de autoria de Marcelo Casal jr/Agência Brasil/FotosPúblicas.

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Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.

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Sobre a matéria

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.