“Com o último dinheiro que tinha, ela comprou leite para essas crianças e decidiu ir para a casa dessa família pobre e miserável. Possivelmente, pelo que as pessoas contam, ela percebeu o abuso contra elas. Não era a primeira vez que Julieta se comovia diante do sofrimento infantil”, escreveu Sophia Hernández, que está em Manaus com sua mãe para acompanhar o velório da artista e o translado do corpo à Venezuela.
“Julieta sempre rejeitou o medo, ela era uma ariana poderosa, nunca teve medo, pelo contrário, rebelava-se com o poder de uma tempestade. Hoje, devemos contar essa parte de sua história, que não é de forma alguma a mais importante nem a que queremos que seja lembrada, mas sua trágica morte é uma história de proeza inimaginável. Julieta se imortalizou e essa é a maior expectativa de qualquer artista!”, diz a irmã da artista Sophia Hernández em carta da família.
“O Thiago mandou a Deliomara roubar o celular. A Julieta estava dormindo na rede. Deliomara se negou a roubar. Então Thiago pegou uma faca para roubar e foi até a rede. A Julieta reagiu, ele deu uma gravata nela, a jogou no chão. Ela ficou desacordada. Thiago mandou Deliomara amarrar os pés de Julieta”, relatou o delegado Valdinei Silva.
. Leia a íntegra da carta aqui.
DADOS SSP DO AMAZONAS 2023
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-01/artistas-e-ativistas-lamentam-morte-de-artista-circense-venezuelana
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2024-01/policia-do-amazonas-indicia-acusados-de-assassinar-artista-venezuelana
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2024/01/10/roupas-e-violao-da-artista-assassinada-no-am-sao-encontrados-em-area-de-mata.ghtm
https://www.facebook.com/photo/?fbid=283680008037252&set=pcb.283681374703782
Em sua coluna no UOL, Milly Lacombe aborda o violento assassinato de Julieta. Vejo como um desserviço à pauta sobre feminicídio “arrastar” o crime para a crítica à instituição familiar e a monogamia. Diz Lacombe: “E, como lembra a escritora e psicóloga Geni Nuñes em sua conta no Instagram, foi assassinada dentro de uma instituição familiar e seu âmbito privado. Esse é, aliás, o lugar mais perigoso para mulheres e crianças existirem: a casa, o lar, a família. Podem espernear quanto quiserem: temos pesquisas, dados, estudos, provas.
Julieta não estava na estrada, não estava nas ruas, não estava no meio da floresta: estava dentro de um lar”. Pergunto: um lar? O casal que a matou estava sob efeito de crack há dias, vivendo de favor na “pousada” que era tomada por lixo e mato. Ambos têm cinco filhos pequenos que, pelas notícias, viviam nas mesmas condições subhumanas que os pais. Estou defendendo o casal? De forma alguma. O que me chama a atenção é a tentativa de pessoas como Lacombe e Geni Nuñez de forçar o contexto da violência: não, Julieta não estava em um lar. Nem foi vítima da “monogamia”. Ela morreu pelas mãos de pessoas que não têm e, provavelmente, nunca tiveram contato com essas “instituições” (que sim, merecem ser questionadas). A violência contra ela é de outra instância. Não tentem legitimar discussões distorcendo fatos. Ela foi morta por pessoas cuja violência é fruto de outras violências.