Juarez Silva Jr.

A Manaus do quilombola e do bandeirante

Novembro chegou ao seu final. Como todo ano na última década e meia, ganhou maior visibilidade e mídia a consciência negra, em um misto de celebração da cultura e presença negra na sociedade brasileira com uma maratona de eventos, publicações, […]

Por Juarez Silva Jr Publicado em: 06/12/2018 às 17:01

Novembro chegou ao seu final. Como todo ano na última década e meia, ganhou maior visibilidade e mídia a consciência negra, em um misto de celebração da cultura e presença negra na sociedade brasileira com uma maratona de eventos, publicações, entrevistas e manifestações de conscientização sobre racismo e o combate à ele.

A Amazônia, especialmente o Amazonas e sua capital Manaus, tem hoje espraiando-se no meio acadêmico e no movimento social, não apenas ações de reversão da já tradicional negação da presença negra, mas uma afirmação de tal presença, com tudo que isso implica.

Essa tomada de consciência histórica e social nos faz questionar coisas que até então em nada ou pouco incomodavam, como desigualdade racial, presença negra local, história e cultura dos africanos e afrodescendentes, representatividade, ações afirmativas e reparações.

Em 2007, Manaus se tornou uma das primeiras cidades e, especialmente capitais, a ter o 20 de novembro como feriado em homenagem a Zumbi dos Palmares e consequentemente à consciência negra. Confirmando uma histórica série de eventos de pioneirismos locais envolvendo negros, como a abolição da escravidão em 1884, ou seja, 4 anos antes da lei Áurea, o primeiro governador afrodescendente do Brasil, Eduardo Ribeiro, em 1891, provavelmente o primeiro promotor de justiça negro do Brasil, Monteiro Lopes, em 1892, a imigração de negros livres, os caribenhos barbadianos em fins do XIX, o primeiro e único time de futebol completamente negro a disputar um campeonato de 1° divisão, o Euterpe nos anos 1920, os precursores de tambores amazônicos como o “gambá” que deram origem ao carimbó paraense e ao boi-bumbá amazonense, entre outros fatos enfim… .

O paradoxo está em ao mesmo tempo que homenageia Zumbi dos Palmares com um nome de bairro e um feriado, homenageia em nome de avenida no bairro D. Pedro, um bandeirante paulista do XVII, notabilizado como grande apresador e exterminador de indígenas e quilombolas, inclusive tendo comandado a derrocada de Palmares e a consequente morte do também homenageado Zumbi.

Ocorre que a lei proíbe isso, e por tal o Ministério Público Federal no Amazonas emitiu recomendação de imediata substituição do nome da Avenida Domingos Jorge Velho, o bandeirante. Vide inteiro teor clicando aqui.

Ocorre que a assessoria jurídica da Câmara Municipal de Manaus argumentou que tal alteração é iniciativa exclusiva do Poder Executivo municipal, e para lá solicitou que fosse encaminhada a recomendação que, até hoje, passados meses, não teve resolução.

Cabe portanto de público lembrar, que essa demanda que faz justiça à população negra de Manaus e do Amazonas merece atenção, e enquanto movimentos e ativistas da negritude locais estamos no aguardo desse acatamento da recomendação do MPF.

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Juarez Silva Jr

Juarez Silva Jr. é um ativista, escrevinhador digital e apaixonado pela Amazônia, radicado em Manaus desde 1991. Tem graduação em Processamento de Dados pela Universidade de Taubaté, em São Paulo. Trabalhou e lecionou diretamente na área de tecnologia da informação por duas décadas, migrando para a área de Educação a Distância na qual é especialista pela Universidade Católica de Brasília. Também é Mestre em História pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Atua nos movimentos de negritude e é estudioso da temática e história das relações raciais e cultura afrobrasileira e africana, movimentos sociais e Direitos Humanos. Foi conselheiro estadual de Direitos Humanos e é servidor público de carreira. Escreve sobre tecnologia, história, relações raciais, atualidades, sociedade e cultura.