Cultura

Palacete recebe exposição “Atlas Momosyne”, um levante artístico no Carnaval em tempos de intolerância

A mostra conta com as participações de artistas de seis estados, do Distrito Federal e quatro países (Foto da obra “Tragédia e glória do incrível povo de Momo no Reino Desencantado da Verdade Blasfema e do Sagrado Caô” (FARPA)) […]

Tragédia e glória do incrível povo de Momo no Reino Desencantado da Verdade Blasfema e do Sagrado Caô (FARPA)

Por Amazônia Real Publicado em: 16/03/2019 às 02:02

A mostra conta com as participações de artistas de seis estados, do Distrito Federal e quatro países (Foto da obra “Tragédia e glória do incrível povo de Momo no Reino Desencantado da Verdade Blasfema e do Sagrado Caô” (FARPA))

Manaus (AM) – A exposição de fotografia e artes visuais “Atlas Momosyne” entra em cartaz neste sábado (16), no Palacete Provincial, na Praça da Polícia, no centro de Manaus. Com abertura marcada para às 19 horas, a mostra tem a curadoria do fotógrafo e jornalista Alberto César Araújo e as participações de 17 artistas visuais, fotógrafos e fotógrafas de cidades como Manaus, Belém, Recife, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e da Terra Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Há obras também de artistas da Argentina, Peru, México e Canadá.

Durante a semana, a exposição estará aberta para visitação de terça à sexta, das 09h às 17h. Nos fins de semana, o Palacete abre das 09h às 14h. A exposição fica em cartaz até dia 15 de abril.

Alberto César Araújo afirma que a exposição “Atlas Momosyne” é um “verdadeiro levante artístico”. “Ela ocupa o Palacete Provincial sob a sombrinha carnavalesca e traça um panorama, ou um ‘apanhado’ desta produção plural e em um momento em que uma postura política, o debate sobre questões fundamentais que permeio o debate social e político, tais como direitos civis, meio ambiente, gênero, feminismo, racismo, misoginia, xenofobia, homofobia e transfobia se faz necessário no campo da Arte.”

Obra Sem Nome/Sem (Cem) Mortos (Concepção, Arte e Performance Keila Serruya /Foto: João Paulo Machado)

Segundo o curador, o título da exposição é inspirado nos “Atlas Mnemosyne”, livro do historiador alemão Aby Warburg, que fez a primeira narrativa visual da História da Arte. Já na mitologia, Atlas é um titã que quis erguer-se contra o imperialismo dos deuses do Olimpo. Seu irmão é Prometeu, que rouba o segredo do fogo para oferecê-lo aos humanos.

Assim como no conceito de “apercebenças”, de George Didi-Huberman, no qual ele faz anotações sobre as “quinquilharias de coisas, ou acontecimentos que aparecem sob seus olhos, e jamais duram muito tempo, lascas, farpas que vem e vão, é a exposição, diz Araújo, “um pouco menos que ver, ver de passagem. Mas também tem um caráter de ser um apanhado de coisas, aqui que se relacionam”.

Neste contexto político atual, onde o Populismo Internacional e a extrema direita por meio de uma estratégia com o uso disseminado de fake-news nas redes sociais e a pós-verdade como matéria prima para uma distopia e para ataques aos direitos civis e democráticos conquistados há décadas avançam mundo a fora, a exposição é um levante artístico e “se faz necessário”. “Tornou-se urgente repensar o papel das imagens e da Arte. É o nosso ofício”, diz Alberto César Araújo.

Obra “Otros Carnavales -Musuk Nolte em Puno no Peru (Foto: Coletivo Versus Photo)

“Nós aqui na Amazônia, estamos muito ameaçados em todos os sentidos e mais ainda as populações tradicionais. Questões são fundamentais para nos fazer perceber de certas distorções históricas e culturais, como a representação do indígena como fantasia. Além da relação do homem com o meio ambiente, no caso os blocos da lama do Rio (Paraty) e do Pará (Curuçá) com as séries de Ratão Diniz e da Rede Panamazônica, temos o desfile da Imperatriz Leopoldinense de 2017 sobre os danos causados pela hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, série feita pelas lentes do canadense Todd Southgate e do indígena brasileiro Kamikia Ksêdjê”, diz o curador Alberto César Araújo, que é fotógrafo e jornalista, além de editor de fotografia da agência Amazônia Real.

“São séries e projetos artísticos que se relacionam, ora pelo conteúdo, ora imageticamente. Como as séries de Ueslei Marcelino, com as Luan Rodrigues no carnaval de Cametá”, completa ele.

A exposição “Atlas Momosyne” destaca também para a produção dos coletivos fotográficos: Farpa, Mídia Ninja e Rede Panamazônica. Com novas abordagens temáticas de carnavais periféricos, pouco ou sem registros pela grande mídia. Como no caso do Carnaval na Cracolândia em São Paulo, ou o movimento de greve dos garis do Rio de Janeiro em pleno Carnaval. Assim como de cidades do interior do México, Peru, Argentina e também no interior do Brasil.

Do nordeste, a documentação do Côco da Mãe Biu, por Beto Figueiroa e as experimentações fotográficas de Ricardo Labastier com Evoé e a Orquestra dos Silêncios, ambos de Pernambuco dão a dimensão da força da fotografia contemporânea, presente na exposição.

Do sudeste, além dos dois coletivos, a série do Bloco das Piranhas na Rocinha por Ana Carolina Fernandes é representante da tradição documental dos carnavais cariocas, que já tiveram os grandes nomes da fotografia documental do início do século XX como Augusto Malta. Já em Sambamazônico, o samba dos barbadianos em Rondônia no sensível olhar de Marcela Bonfim.

A intenção da exposição é abordar séries de imagens e trabalhos no campo das artes visuais que se e insiram neste contexto, e dá visibilidade às periferias, além de tocar em temas transversais como a relação do homem com a natureza e sua preservação, homofobia, transfobia, misoginia e exclusão.

Obra “Carnis Vale” de Raphael Alves

Os artistas convidados da mostra “Atlas Momosyne” são:

Raphael Alves e com “Carnis Vale”, Michael Dantas com “Carnaval de Manaus” e os artistas visuais Mendes Auá, Keila Serruya e Paulo Trindade, todos de Manaus;

Marcela Bomfim, de Porto Velho;

Luan Rodrigues com o Carnaval fluvial de Cametá, de Belém;

Rede Panamazônica com Ana Mokarzel, Paulo Santos, Tarso Sarraf, Lucivaldo Sena, Maycon Nunes, de Belém;

Kamikia Ksêdjê, da Terra Indígena do Xingu, do Mato Grosso, e Todd Southgate, canadense, radicado em Florianópolis, com Carnaval de 2017 da Imperatriz Leopoldinense sobre o Belo Monstro e o Xingu;

Ueslei Marcelino com os carnavais desconhecidos do Pará.

Ana Carolina Fernandes com “Carnaval do Bloco das Piranhas na Rocinha”, Rio;

Ratão Diniz (Rio) com “O Bloco de Lama”, de Paraty;

Coletivo Farpa com Valda Nogueira, Tuane Fernandes, Thiago Dezan, Francisco Proner, Erick Dau e Christian Braga, de São Paulo;

Mídia Ninja (com “Otros Carnavales”), de São Paulo;

Ricardo Labastier com “Evoé, de Recife, a “Orquestra de silêncios” e “Côco de Mãe Biu” de Beto Figueiroa, de Recife

Os coletivos Sub Coop, da Argentina;

Versus Photo, do Peru;

Leo Savaris de São Paulo e Israel Füguemann, do México;

Raoni e Megarom no desfile da Imperatriz, Rio 2017, de Todd Southgate

O que é?

Exposição de fotografia e artes visuais “Atlas Momosyne”

Local: Palacete Provincial, na Praça da Polícia, no centro de Manaus.

Abertura: sábado (16/03), às 19h

Visitação: de segunda à sexta, das 09h às 17h, e fim de semana das 09h às 14h.

Fica em cartaz até dia 15 de abril.

Entrada gratuita

Informações: Alberto César Araújo (092 98202-7070 (whatsapp)

Obra “Bloco das Piranhas”, na Rocinha, Rio, 2018, de Ana Carolina Fernandes
Foto de Paulo Santos/Panamazônica, mostra foliões durante o carnaval de Curuçá, no litoral do Pará.
Da série Evoé e a orquestra carnal do Silêncio de Ricardo Labastier.
Carnaval da Cracolândia em São Paulo por Leo Savaris/Mídia Ninja
O Bloco da Bicharada em Cametá por Ueslei Marcelino.
O Bloco da Lama na cidade de Paraty (RJ) por Ratão Diniz.

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Reportagem Noticiosa

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