Meio Ambiente

Rondônia ainda tem 180 famílias alojadas em abrigo de barracas

No próximo dia 12 de junho, feriado no Brasil pela abertura da Copa do Mundo, a auxiliar de limpeza Ineuza Paiva de Brito, 40 anos, completará quatro meses que mora com a família em abrigos públicos em Porto Velho (RO). […]

Famílias reclamam do calor das barracas em Porto Velho (Foto: Decom RO)

Por Kátia Brasil Publicado em: 09/06/2014 às 15:26

No próximo dia 12 de junho, feriado no Brasil pela abertura da Copa do Mundo, a auxiliar de limpeza Ineuza Paiva de Brito, 40 anos, completará quatro meses que mora com a família em abrigos públicos em Porto Velho (RO). Ela perdeu a casa e os móveis em fevereiro deste ano durante a enchente do rio Madeira. A cheia já passou. Ineuza Brito continua alojada.

Primeiro, ela, o marido e um filho adolescente foram abrigados por dois meses em uma sala da escola municipal São Pedro. Há dois meses, a família vive dentro de uma barraca humanitária da Defesa Civil no Parque de Exposições Agropecuárias sem perspectiva de sair do lugar.

Segundo a auxiliar de limpeza, o governo de Rondônia prometeu no mês de abril sortear casas do programa federal Minha Casa, Minha Vida e pagar um auxílio aluguel de R$ 500 para cada família sair do abrigo.

“Morávamos na Comunidade São Sebastião 2. Quando a água veio consegui tirar da casa a TV e algumas roupas. A água já baixou, mas areia e a lama soterraram tudo. O governo anunciou que vai sortear casas do Minha Casa, Minha Vida. Que vai dar um auxílio aluguel. Mas não vimos nada disso ainda. É por isso que a gente não tem o que festejar! ”, disse Ineuza Paiva de Brito à agência Amazônia Real.

O nível do rio Madeira marcou a cheia histórica em 30 de março com 19,74 metros. Cerca de 25 mil famílias foram afetadas pelas inundações. A Justiça Federal de Rondônia classificou a enchente de tragédia e determinou que uma comissão de peritos investigue se os impactos ambientais e sociais foram decorrentes das obras das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.

No Parque de Exposições, chamado pelo governo de Rondônia de “Abrigo Único”, estão alojadas cerca de 180 famílias (ou 900 pessoas) que, assim como Ineuza Brito, também perderam as casas na cheia do rio Madeira. O lugar já abrigou 216 famílias (1.080 pessoas), segundo a Defesa Civil Estadual.

A barraca humanitária tem aproximadamente 15 metros quadrados e 2,7 metros de altura. Há energia elétrica no abrigo, água potável e um campinho de futebol. A alimentação é doada pelo governo estadual.

Durante o dia e à noite, mesmo quando retorna do trabalho num condomínio da cidade, Ineuza Brito disse que enfrenta muito calor dentro da barraca. “É uns 40 graus, é um micro-ondas! A gente passa mal dentro da barraca”, afirmou.

Barraca tem 15 metros quadrados onde mora uma família (Foto: Decom RO)

A autônoma Laides Silva de Oliveira, 40 anos, disse à agência Amazônia Real que foi alojada no “Abrigo Único” no dia 12 de abril com os cinco filhos, que têm idades entre três anos e 17 anos. Antes, a família que morava também no bairro São Sebastião 2, ficou abrigada por dois meses numa escola pública. Ela reclama da insegurança e da falta de limpeza no Parque de Exposições. “Estamos convivendo com muitas pessoas, mais de 700 pessoas. Não temos a privacidade. O banheiro é aquele químico. O povo não cuida direito, é aquela sujeira”, afirmou.

Laides Oliveira disse que é contra o sorteio de casa populares do programa Minha Casa, Minha Vida aos desabrigados da enchente.

“A gente que está nessa calamidade pública. Não devíamos enfrentar sorteio de casa. Devíamos ganhar uma casa, nós perdemos tudo. Estamos abandonados aqui”, disse Laides Oliveira.

Para a dona de casa, a enchente do rio Madeira em Porto Velho foi algo jamais visto, mas provocado por vários efeitos. “Olha que eu vivo aqui há 40 anos. Mas acredito que muitas enchentes virão por causa da mudança global e das chuvas nas cabeceiras. Também em parte pelas usinas que foram construídas no rio. Nosso rio desbarranca. Mas nesse ano não teve isso. Nosso rio desmoronou e levou casas e famílias inteiras perderam tudo. Tudo foi soterrado”, afirmou Laides Silva de Oliveira à agência Amazônia Real.

O coronel Lioberto Caetano de Souza, coordenador da Defesa Civil do Estado de Rondônia, negou que haverá sorteios de casas do programa Minha Casa, Minha Vida. “Essas famílias que estão alojadas no Abrigo Único terão prioridade. Serão entregues 2.000 casas para as famílias os desabrigados”, afirmou o coronel Caetano de Souza.

No entanto, a Secretaria de Estado da Assistência Social (Seas) disse que havaerá sorteio. As casas só serão distribuídas a partir do mês de julho, assim como o pagamento do aluguel social. O investimento na ação de habitação é de R$ 25 milhões. Em nota divulgada no site do governo de Rondônia, o governador Confúcio Moura (PMDB) disse primeiro serão distribuídas 1.000 casas do Condomínio Orgulho do Madeira, que faz parte dos Programas Morada Nova (estadual) e Minha Casa, Minha Vida. Outras mil casas serão entregues em agosto.

“Será feita seleção criteriosa. Mas a casa será dada gratuitamente”, afirmou o governador Cafúcio Moura.

O coronel Caetano de Souza disse que além das 180 famílias do “Abrigo Único”, cerca de mil moradores das comunidades São Carlos e Nazaré, ambos os Distritos de Porto Velho, serão descolocados para outras localidades.

As casas das famílias foram destruídas pela força das águas do rio Madeira. Sedimentos, animais mortos, lixo e lama soterraram as moradias. A água potável das comunidades ficou contamina. “Essas famílias receberão R$ 1 mil para comprar móveis e R$ 500 de aluguel por seis meses também a partir de julho”, afirmou.

Durante a enchente do rio Madeira, o governo federal destinou R$ 5,8 milhões para ajuda humanitária em Rondônia. A famílias serão atendidas pelo Plano Nacional de Habitação Rural (PNHR), segundo o Ministério da Integração Regional.

Procurada pela reportagem, a assessoria da Seas enviou nota informando que serão sorteadas em Porto Velho 2.000 moradias, entre casas e apartamentos do Residencial Orgulho do Madeira, programa que tem a participação do Minha Casa, Minda Vida. “O sorteio para atender a cota especial de 3% para idosos e 3% para pessoas com deficiência será realizado no dia 14 de junho. O sorteio para o grupo geral será realizado no dia 21 de junho. Nesta primeira etapa serão beneficiadas 2 mil famílias. Participarão dos sorteios as famílias que se inscreveram e que atenderam os requisitos dos Programas Minha Casa Minha Vida do Governo Federal e Morada Nova do Governo do Estado de Rondônia”, diz a nota.

Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou nas TVs Educativa e Cultura e nos jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 1o. lugar Região Norte do Prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade em defesa das pessoas LGBTQIAPN+. ([email protected])