Política

Série “Sem direitos” é finalista do Prêmio Patrícia Acioli de Direitos Humanos

A reportagem, que já ganhou o Prêmio Vladimir Herzog, foi produzida em parceria entre o #Colabora, Amazônia Real e Ponte Jornalismo (Foto: Sem moradia: seu Isaias e a família em Belém/Pedrosa Neto/Amazônia Real) Manaus (AM) – A série “Sem direitos: […]

Sem moradia -Casa de seu Isaias no conjunto Laércio Barbalho no bairro do Tapanã em Belém do Pará Na foto Seu Isaias, o filho, a nora e as netas. (Foto: Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Por Kátia Brasil Publicado em: 28/10/2019 às 19:47

A reportagem, que já ganhou o Prêmio Vladimir Herzog, foi produzida em parceria entre o #Colabora, Amazônia Real e Ponte Jornalismo (Foto: Sem moradia: seu Isaias e a família em Belém/Pedrosa Neto/Amazônia Real)

Manaus (AM) – A série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”, resultado da parceria colaborativa entre as mídias digitais e independentes #Colabora, Amazônia Real e Ponte Jornalismo, é uma das cinco reportagens finalistas da 8ª edição do Prêmio AMAERJ Patrícia Acioli de Direitos Humanos. De autoria da jornalista Adriana Barsotti, a série tem as participações de Carolina Moura, Catarina Barbosa, Edu Carvalho, Fausto Salvadori, Daniel Arroyo, Pedrosa Neto, Yuri Fernandes e Fernando Alvarus.

Para dar rosto a essas pessoas que vivem à margem do que a Constituição brasileira assegura, o #Colabora, a agência Amazônia Real e a Ponte Jornalismo publicaram em março deste ano a série de reportagens “Sem direitos” e incluiu ainda um recorte sobre as vítimas da violência policial no país. Leia aqui como foi a apuração das reportagens da série premiada pelo Vladimir Herzog 2019.

A série “Sem direitos” utilizou dados do IBGE, extraídos das Pesquisas Síntese dos Indicadores Sociais realizadas em 2017 e 2018, para identificar os cidadãos excluídos dos direitos básicos. Conforme o instituto, 65% da população brasileira não têm pelo menos um dos seguintes direitos garantidos: à educação, à proteção social, à moradia adequada, aos serviços de saneamento básico e à internet.

O Prêmio Patrícia Acioli tem o apoio do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, da EMERJ (Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro) e da Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) e patrocínio da ANOREG/RJ (Associação dos Notários e Registradores do Estado do Rio de Janeiro), da Multiplan, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e do jornal “O Dia”.

Criada em 2012, a premiação celebra a memória da juíza carioca Patrícia Acioli. Titular da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, ela foi morta em 2011, em Niterói, por policiais militares. Além de homenagear Patrícia Acioli, o Prêmio tem o objetivo de identificar, disseminar e estimular a realização de ações em prol dos direitos humanos.

A jornalista Adriana Barsotti, do Projeto #Colabora, falou sobre a importância do Prêmio Patrícia Acioli. “Ela entregou sua vida para defender os direitos humanos, o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança. Foi uma vítima das milícias, que infelizmente ainda dominam diversas áreas do Rio de Janeiro, restringindo os direitos básicos das populações de favelas majoritariamente. É muito emocionante estarmos como finalistas do prêmio com uma série que ilustra justamente os brasileiros que vivem à margem dos direitos constitucionais e que representam 65% da população”.

Para a editora de conteúdo da agência Amazônia Real, Elaíze Farias, a indicação da série “Sem direitos” ao Prêmio Patrícia Acioli mostra a relevância do trabalho colaborativo e de parcerias no jornalismo. “Não estamos inventando a roda, apenas ampliando e aprofundando outras possibilidades de produzir jornalismo, que é cada vez mais indispensável nesses tempos de intensificação dos ataques aos direitos da população brasileira, sobretudo as mais marginalizadas e excluídas. É isso que mostrou o trabalho do Colabora, Amazônia Real e Ponte Jornalismo”, destacou a jornalista e cofundadora da agência.

Ao comentar a indicação ao prêmio, o jornalista Fausto Salvadori, editor da Ponte Jornalismo, destacou que a juíza Patrícia Acioli morreu enfrentando as milícias, “num tempo em que ainda nem tinham esse nome”. “Lembrar dela é lembrar de uma guerreira na luta contra a violência de Estado e pelos direitos humanos. Na Ponte Jornalismo, gostamos de pensar que estamos nessa luta também. E a parceria com o Projeto Colabora e a Amazônia Real nos permitiu lutar com armas do melhor jornalismo. Por tudo isso, é uma honra estar como finalista num prêmio que leva o nome dela”, disse.

A cerimônia de premiação do 8º Prêmio Patrícia Acioli de Direitos Humanos será em 2 de dezembro, a partir das 18h, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Os 18 finalistas concorrem nas categorias Trabalhos dos Magistrados, Reportagens Jornalísticas, Práticas Humanísticas e Trabalhos Acadêmicos.

Na categoria Trabalhos dos Magistrados, os três primeiros colocados serão premiados com troféus. Nas demais categorias, o primeiro lugar ganhará R$ 15 mil; o segundo, R$ 10 mil; e o terceiro, R$ 5 mil. Os três primeiros colocados também receberão troféus. Os outros finalistas serão homenageados com Menções Honrosas.

Participam também da categoria Reportagens Jornalísticas, além da série “Sem direitos”, as matérias: Brutalidade que os laudos não contam, de Caio Barreto Briso, da Revista Piauí; A Besta, de Henrique Beirangê e coautores, da RecordTV; A invasão, de Rafael Soares, do Jornal Extra; e A lama que queima: compradora de minério da Vale faz vítimas no interior do Maranhão, de Thais Lazzeri, da Repórter Brasil. Leia a lista dos indicados no final deste texto.

O Prêmio Vladimir Herzog

As equipes da Ponte Jornalismo, Amazônia Real e Colabora no Prêmio Vladimir Herzog 2019 (Foto: Alice Vergueiro)

Na última quinta-feira (24), a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil” recebeu o 41° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, na Categoria Multimídia, no teatro Tucarena, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ao receber a premiação, a jornalista Adriana Barsotti, do Projeto #Colabora, homenageou os brasileiros que vivem sem direitos.

“Queria dedicar o prêmio aos personagens da nossa reportagem. Os sem direitos que vivem à margem da constituição do Brasil, que representam 65% da população. Meu muito obrigada à dona Júlia, seu Isaque, Bruna Silva, Roberta, ao seu Pedro, à família da Jéssica, pessoas que abriram a porta das suas casas para nos receber”. E completou: “Não é só importante representar esses grupos marginalizados, mas também trazê-los para as nossas redações”.

Na premiação do Vladimir Herzog, a Amazônia Real foi representada pela jornalista Maria Fernanda Ribeiro, que é colaboradora da agência desde 2017 e aborda temas relacionados às mulheres amazônicas.

“Estar aqui hoje para mim é uma grande responsabilidade, pois estou representando duas mulheres incríveis: a Kátia Brasil e a Elaize Farias, as fundadoras da Amazônia Real. Uma agência de jornalismo independente que surgiu para dar voz aos povos da Amazônia, ribeirinhos, quilombolas, indígenas. Uma agência que desde o princípio acreditou no jornalismo colaborativo, não só com outras agências, mas também formando uma grande rede de jornalistas colaboradores para fazer ecoar ainda mais essas vozes. Estar aqui hoje significa que a escolha deu certo. Em nome dessas mulheres e da Amazônia Real, o nosso muito obrigada”, disse Maria Fernanda.

“Meu filho foi morto pelo braço armado do Estado. Marcos Vinícius já tem 1 ano e meio de morto, de lá para cá me tornei uma defensora dos direitos humanos”. A frase de Bruna da Silva foi lida por Fausto Salvadori, repórter, editor e um dos fundadores da Ponte Jornalismo, durante a cerimônia de entrega do 41º Prêmio Vladimir Herzog pela série “Sem Direitos”, feita em conjunto com Projeto #Colabora e Amazônia Real.

Mais do que uma vitória para os três veículos, que atuaram como parceiros e colhem os frutos da colaboração jornalística, a conquista do Herzog evidencia que é preciso amplificar, cada vez mais, as vozes dos grupos que historicamente foram silenciados, escreveu o site Ponte Jornalismo.

“Eu me lembro que, na porta o IML (Instituto Médico Legal), a primeira coisa que eu falei para a imprensa foi: ‘cadê os direitos humanos do meu filho, onde estavam os direitos humanos que foram negados a ele naquele 20 de junho de 2018?’ Naquele mesmo dia começou minha busca por esses direitos humanos, direito de todo cidadão brasileiro que é negado todos os dias”, escreveu Bruna, no discurso emocionando e potente lido por Salvadori.

Glenn Greenwald com estudantes de jornalismo (Foto: Alice Vergueiro)

O 41º. Prêmio Vladimir Herzog também premiou as seguintes reportagens: “Matança da PM em Milagres e a invenção da resistência, do jornal Diário do Nordeste”; “70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos – conquistas e fracassos, da TV Globo”; a fotografia “Exército detém dez militares ligados a assassinato de músico no Rio, do El País Brasil”; a arte “Tira, do Portal Leia Já”; e o áudio “LGBTfobia: Medo de quê?”, da Rádio CBN, entre outros.

Os jornalistas Patrícia Campos Mello e Glenn Greenwald receberam a homenagem máxima da noite pelo trabalho jornalístico realizado na Folha de S. Paulo e The Intercept Brasil, respectivamente.

Patrícia revelou uma rede de disparos de mensagens no WhatsApp na campanha eleitoral do então candidato, hoje presidente eleito, Jair Bolsonaro. “As mulheres são as principais vítimas. Há um componente de misoginia nas milícias virtuais”, destacou a jornalista. “Eu nunca me curvei. E não me curvarei. Pela memória de Vlado, temos que continuar fazendo jornalismo e de maneira independente”, disse ela, durante a cerimônia de premiação.

Já Greenwald lançou uma bomba no cenário político brasileiro com a “Vaza Jato”, como foi apelidada a série de vazamentos de mensagens que colocou em xeque a operação Lava-Jato. A denúncia aponta combinações entre procuradores, um deles Deltan Dallagnol, responsável pela condenação do ex-presidente Lula, e o então juiz e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

“As ameaças e a raiva que esse governo têm das minhas denúncias me dão muito orgulho”, disse Glenn, que exaltou a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro junto de seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018. “Não vou me calar até os monstros que mataram Marielle estarem na prisão”.

Os premiados do Vladimir Herzog 2019 (Foto: Alice Vergueiro)

A noite contou com várias manifestações públicas de apoio ao jornalismo em um período histórico repleto de ataques à profissão e aos defensores dos direitos humanos.

Felipe Santa Cruz, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), cuja memória do pai, morto na ditadura militar, foi atacada pelo presidente Bolsonaro, agradeceu o apoio recebido por meio das palavras do jornalista Juca Kfouri, mestre de cerimônias do prêmio.

“Os princípios dos direitos humanos devem necessariamente integrar a agenda brasileira. Devemos proteger a liberdade e quem luta por ela. A perenidade desse prêmio destaca a memória e justiça. Os direitos humanos são processos de luta. O respeito ao outro vencerá o ódio e a intolerância”, declarou Santa Cruz. “Nessa premiação, revela-se o trabalho incansável para que as dores do ser humano, injustiça, violações de direito tenham sim espaço na imprensa. Não permitiremos que a barbárie nos domine. A sociedade brasileira é Vladimir Herzog, não os facínoras que o mataram”, finalizou, sendo ovacionado.

VEJA OS FINALISTAS DO PRÊMIO PATRÍCIA ACIOLI

(Ordem alfabética por autor)

Trabalhos dos Magistrados

Projeto Adoce: Acordos após ingestão de Dextrose Observados em Conciliações Judiciais (processuais) e Extrajudiciais (pré-processuais)
Autora: Aline Vieira Tomás Protásio

Programa Flor de Lótus
Autores: Elen de Freitas Barbosa, Márcia Miranda, Paulo C. Luciano, Hortencia Barros, Cristiane Barbosa

Projeto Adoção Segura
Autores: Robespierre Foureaux Alves e José Cândido Sobrinho

Reportagens Jornalísticas

Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil
Autores: Adriana Barsotti, Catarina Barbosa, Edu Carvalho e Carolina Moura
Veículo: Projeto Colabora

Brutalidade que os laudos não contam
Autor: Caio Barreto Briso
Veículo: Revista Piauí

A Besta
Autores: Henrique Beirangê e coautores
Veículo: RecordTV

A invasão
Autor: Rafael Soares
Veículo: Jornal Extra

A lama que queima: compradora de minério da Vale faz vítimas no interior do Maranhão
Autora: Thais Lazzeri
Veículo: ONG Repórter Brasil

Práticas Humanísticas

Projeto Luz & Autor em Braille
Autora: Dinorá Couto Cançado

Nossa Escola é em Todo Lugar
Autores: Instituto Camará Calunga e João Carlos Guilhermino da Franca

Projeto Refúgio, Migrações e Hospitalidade
Autores: Jose Antonio Peres Gediel e Tatyana Scheila Friedrich

Projeto Papo na Obra: construindo a paz no lar
Autoras: Maria do Amparo de Sousa Paz, Cynara Maria Cardoso Veras Alves e Núbia de Caldas Brito Pereira

Projeto Brasileirinho
Autoras: Vânia Aparecida Silva Corrêa Pinto e Jacqueline Campos Rangel

Trabalhos Acadêmicos

Das Fake News aos discursos de ódio: uma análise à luz da Constituição Cidadã nas mídias sociais
Autora: Bruna de Souza Elias

Conscientizar para educar: a acessibilidade atitudinal como ferramenta de transformação social
Autora: Deborah Maria Prates Barbosa

Piquiá em Açailândia – MA: A luta pelos direitos humanos e a conquista do reassentamento coletivo
Autoras: Idayane da Silva Ferreira e Roseane Arcanjo Pinheiro

O protagonismo cor de rosa nos espaços de decisão política no estado do Rio de Janeiro: um tributo a vereadora Marielle Franco, para sempre presente
Autora: Lígia Silva de Sá

Quem tem medo do lobo mau? O direito à proteção da terra indígena
Autora: Natália Caye Batalha Boeira

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Sobre a matéria

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Recém formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, foi morar na Amazônia no início do ano de 1990. Trabalhou nas TVs Educativa e Cultura e nos jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019, Prêmio Abraji, em 2020, Vladimir Herzog e Comunique-se, ambos em 2021. É uma das jornalistas brasileiras +Admiradas Negras da Imprensa Brasileira, em 2024. É diretora editorial do Projor/Observatório da Imprensa. Conselheira do Tornavoz e RBJA, e membra da Comissão da ABI Ambiental. Foi eleita em 1o. lugar Região Norte do Prêmio TOP 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros. Integra o forbiddenstories.org, o Fórum Permanente das Mulheres de Manaus (FPMM) e o Coletivo Mães Pela Diversidade em defesa das pessoas LGBTQIAPN+. ([email protected])