A Amazônia segundo Lúcio Flávio Pinto

Uma tragédia

A população que precisa receber a vacina contra a covid-19 foi estimada pela Secretaria de Saúde Pública do Pará em quase 7,5 milhões dos 8,7 milhões de habitantes do Estado. Do total (em número exato) de 7.468.372 clientes potenciais da […]

Vacinação com pouca adesão no Shopping Boulevard.(Foto: Cícero pedrosa Neto/Amazônia Real)

Por Lúcio Flávio Pinto Publicado em: 09/02/2022 às 17:07

A população que precisa receber a vacina contra a covid-19 foi estimada pela Secretaria de Saúde Pública do Pará em quase 7,5 milhões dos 8,7 milhões de habitantes do Estado. Do total (em número exato) de 7.468.372 clientes potenciais da vacina, 5.989.541 tomaram a 1ª dose.

O índice de evasão até agora é de quase 20% (19,8%). Ainda precisam tomar a primeira dose 1.478.831 pessoas. Ou tanta gente quanto a que mora em Belém.

Dos quase 6 milhões de seres humanos que começaram o ciclo vacinal, mais de 5,5 milhões (5.512.041 em número exato) tomaram a 2ª dose. A evasão diminuiu, mas ainda é grande: de quase 24% (23,81%). Significa que quase meio milhão de pessoas (477.430) que receberam a 1ª dose da vacina ainda não foram tomar a segunda, até ontem.

Na estatística sobre a 3ª dose é preciso mudar a referência e passar a considerar a presença, cujo índice é de menos de 10% (9,41%). Dos 5,5 milhões que se vacinaram pela segunda vez, apenas 702.703 tomaram a 3ª dose.

Quer dizer que 90% (4.809.336 pessoas) ainda não têm a melhor imunidade possível para afastar efetivamente essa terrível pandemia, que recomenda a conclusão da vacinação programada com base no melhor e mais avançado conhecimento científico já mobilizado em todo mundo para enfrentar essa praga moral.

Ela já submeteu ao sofrimento 672 mil pessoas, vítimas diretas da doença, e matou 17.746 pessoas no Pará até ontem. No Brasil, são 26,3 milhões de casos e 634 mil mortes.

Desses paraenses que ainda estão expostos ao vírus terrível, quantos são menores de idade, crianças e adolescentes, que não se vacinaram (com a primeira, a segunda ou a terceira doses) porque seus pais, dos quais são dependentes de fato ou de direito, não os levaram aos postos de vacinação ou proíbem que se vacinem.

Esses cidadãos estão presos literalmente ao fanatismo medieval negacionista, que lhes foi inoculado por uma cadeia de inimigos da inteligência, com sua base no topo do poder político, na presidência da república, usada como anjo da morte pelo ex-capitão (que pediu demissão para não ser expulso do Exército por mau comportamento e impulsos biliosos e belicosos), o perigoso Jair Messias Bolsonaro?

Os números mostram a gravidade dramática da situação da saúde pública. Quando eles se combinam com as estatísticas dos efeitos da pandemia sobre a educação no país, que agora começam a ser divulgadas, a tragédia se completa.

O Brasil deverá sobreviver a ela, mesmo sendo, talvez, o seu maior desafio histórico. Mas vai perder tempo, espaço e gente até conseguir retomar o caminho normal da vida e da civilização. O efeito Bolsonaro, o mais maligno da vida política brasileira, deverá perdurar por décadas.
Quem sobreviver, verá.

A imagem que ilustra este artigo mostra a campanha de vacinação com pouca adesão no Shopping Boulevard em Belém, em julho de 2021(Foto: Cícero Pedrosa Neto/Amazônia Real).

Além de colaborar com a agência Amazônia Real, Lúcio Flávio Pinto mantém quatro blogs, que podem ser consultados gratuitamente nos seguintes endereços:

* lucioflaviopinto.wordpress.com – acompanhamento sintonizado no dia a dia.

* valeqvale.wordpress.com – inteiramente dedicado à maior mineradora do país, dona de Carajás, a maior província mineral do mundo.

* amazoniahj.wordpress.com – uma enciclopédia da Amazônia contemporânea, já com centenas de verbetes, num banco de dados único, sem igual.

* cabanagem180.wordpress.com – documentos e análises sobre a maior rebelião popular da história do Brasil.

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Sobre a matéria

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Belém

Lúcio Flávio Pinto

Lúcio Flávio Pinto é jornalista desde 1966. Sociólogo formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1973. Editor do Jornal Pessoal, publicação alternativa que circula em Belém (PA) desde 1987. Autor de mais de 20 livros sobre a Amazônia, entre eles, Guerra Amazônica, Jornalismo na linha de tiro e Contra o Poder. Por seu trabalho em defesa da verdade e contra as injustiças sociais, recebeu em Roma, em 1997, o prêmio Colombe d’oro per La Pace. Em 2005 recebeu o prêmio anual do Comittee for Jornalists Protection (CPJ), em Nova York, pela defesa da Amazônia e dos direitos humanos. Lúcio Flávio é o único jornalista brasileiro eleito entre os 100 heróis da liberdade de imprensa, pela organização internacional Repórteres Sem Fronteiras em 2014. Acesse o novo site do jornalista aqui www.lucioflaviopinto.com.