Agachados

Por Kátia Brasil Publicado em: 22/05/2022 às 19:37

Darlene de Araújo fica acocada a maior parte do tempo dentro da palafita em Cacau Pirêra (Foto de Fernando Crispim/Amazônia Real/2021)

Do ano de 2012 para cá, a enchente do rio Negro tem sido recorrente e extrema. As águas do manancial subiram acima de 29 metros, nível considerado de inundação grave, segundo os especialistas na hidrologia da bacia amazônica. A cheia provoca danos econômicos e crise humanitária às populações ribeirinhas. A situação é agravada pela falta de política pública no enfretamento da crise climática.

Muitas cidades decretam calamidade pública por não terem como abrigar famílias e doar alimentos, cabendo ao governo federal entrar com uma resposta rápida ao desastre natural.

Para não abandonar suas casas alagadas, a maioria delas são palafitas construídas com restos de madeira, os moradores das áreas mais pobres constroem pontes, que viram as ruas dos bairros.

Dentro das casas, eles fazem marombas (segundo assoalho) para não perderem os móveis, eletrodomésticos, alimentos e escaparem de ataques de cobras, ratos e animais peçonhentos. Com as marombas quase no teto das casas, os moradores sobrevivem o período da enchente andando agachados, abaixados e acocados entre os quartos, sala e cozinha.

Durante a cheia do ano de 2021, quando o rio Negro chegou ao seu maior nível em 119 anos: 30,02 metros; a agência Amazônia Real acompanhou o dia-a-dia de moradores que enfrentam a calamidade da enchente.

O documentário “Agachados” relata a vida dos moradores: Gésito da Silva Machado e Sandro Bandeira Santana (ambos do do bairro Educandos, em Manaus); e Jacenira Batista da Silva e Darlene de Araújo (ambas de Cacau Pirêra, em Iranduba).

“O tempo todo abaixadinho, por conta dos fios, fica perigoso. Quando não, são os paus que a gente machuca a cabeça e todo tempo é desse jeito, tem que andar agachadinho para não se machucar”, disse Jacenira.

“Assim que nós convivemos aqui, nessa tristeza, é ruim, mas a gente não tem outro meio para sair daqui, até porque uma casa alugada é muito cara em terra, é obrigado a gente ficar aqui mesmo”, explica Gésito.

Os cientistas do painel IPCC da ONU afirmam que a cheia extrema é resultado da crise climática associada à ação humana na Amazônia. A emissão de gás carbono das florestas desmatadas e queimadas na atmosfera interferem no ciclo das águas. A consequência são fenômenos climáticos, como a La Niña, recorrentes, o que aumenta as inundações nas enchentes. Quem sofre primeiro são os ribeirinhos e principalmente as crianças e mulheres.

Este ano de 2022, a enchente do rio Negro se mostra tão grave como a anterior em menos de 1 ano em que Manaus enfrentou problemas semelhantes. No estado do Amazonas, 59 dos 62 municípios foram atingidos pela subida das águas. Mais de 320 mil pessoas estão enfrentando novamente danos econômicos e necessitando de ajuda humanitária.

Leia a reportagem sobre o tema em www.amazoniareal.com.br

Reportagem Investigativa

Sobre a matéria

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“O tempo todo abaixadinho, por conta dos fios, fica perigoso. Quando não, são os paus que a gente machuca a cabeça e todo tempo é desse jeito, tem que andar agachadinho para não se machucar”, disse Jacenira Batista da Silva, moradora de uma palafita em Cacau Pirêra, em Iranduba, no Amazonas.

Local de Cobertura

Manaus (AM)

Kátia Brasil

Kátia Brasil é co-fundadora e editora executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, com sede em Manaus (AM). Formada pela Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, é radicada na Amazônia desde os anos 1990, onde trabalhou na TV Cultura e jornais O Globo, A Gazeta de Roraima, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Entre os prêmios que ganhou estão o Esso Regional Norte 1991 e Women Journo Heroes (#JournoHeroes), da International Women’s Media Foundation (IWMF), em 2019. Ganhou o Prêmio Abraji de 2020 e o Comunique-se em 2021. Está na segunda posição dos +Premiados da Imprensa Brasileira 2021. É conselheira da Énois escola de jornalismo e do projeto Tornavoz. Integra o forbiddenstories.org ([email protected])

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