Política

Pesquisador da Fiocruz defende o isolamento social contra o novo coronavírus no Amazonas

No estado já tem mais casos de Covid-19 do que São Paulo e Rio de Janeiro no ranking dos maiores coeficientes de incidência. São 15,1 casos por grupo de 100 mil habitantes Foram registrados 636 casos da doença e 23 […]

Manaus 04.04.2020 - Enterro no cemiterio Parque Taruma de vitma do Covid 19 em Manaus,Amazonas, Brasil. Foto Bruno Kelly/Amazonia Real.

Por Izabel Santos Publicado em: 07/04/2020 às 18:56

No estado já tem mais casos de Covid-19 do que São Paulo e Rio de Janeiro no ranking dos maiores coeficientes de incidência. São 15,1 casos por grupo de 100 mil habitantes

Foram registrados 636 casos da doença e 23 mortes (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Manaus (AM) – O pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), o especialista em virologia Felipe Naveca, disse em entrevista à agência Amazônia Real que o isolamento social, adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pode frear o avanço da pandemia do novo coronavírus e ajudar a preparar o sistema de saúde, isto é, evitando o colapso na rede de saúde do Amazonas.

Para Felipe Naveca, o isolamento social “é mais importante para frear o avanço da doença, de modo a dar ao sistema de saúde mais tempo para lidar com formas graves”, isto é, não entrar em colapso como já anunciou o Ministério da Saúde que pode acontecer no estado.

“Não temos nem uma vacina, nem uma droga específica, então a melhor medida é prevenção. Indiretamente estaremos diminuindo a velocidade de evolução [do vírus]”, acrescenta o pesquisador.

O distanciamento social é uma recomendação feita pela OMS para impedir o avanço da pandemia de coronavírus no mundo. No Amazonas, que está entre os estados com uma curva acelerada dos casos de Covid-19, o governador Wilson Lima (PSC), aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), adotou a recomendação, mas o aceleramento dos casos preocupa o Ministério da Saúde.

Em todo o estado, comerciantes ainda insistem em infringir as normas de suspensão do funcionamento de estabelecimentos que prestam serviços não essenciais e muitas pessoas estão nas ruas.

No 7o. Boletim Epidemiológico, o Ministério da Saúde diz que o Amazonas ocupa o segundo lugar no ranking dos maiores coeficientes de incidência de Covid-19 no Brasil. São 15,1 casos por grupo de 100 mil habitantes no estado. Em primeiro lugar no ranking está o Distrito Federal, com 16,5 por 100 mil habitantes. Em terceiro vem São Paulo com 12,2 casos. Em quarto o Ceará com 11,4 casos. E em quinto lugar o Rio de Janeiro com 9,7 casos por 100 mil habitantes.

Até esta terça-feira (6), foram registrados 636 casos da doença e 23 mortes, no Amazonas. Desses, 560 estão em Manaus e 76 no interior: Manacapuru (42 casos), Itacoatiara (9), Santo Antônio do Içá (7), Parintins (4), Iranduba (3), Tonantins (3), Anori (1), Boca do Acre (1), Careiro da Várzea (2), São Paulo de Olivença (2), Novo Airão (1) e São Gabriel da Cachoeira (1).

O primeiro caso confirmado de Covid-19 do Amazonas foi divulgado em 13 de março, em um paciente do sexo feminino, de 39 anos de idade, que esteve em Londres, na Inglaterra. A primeira morte aconteceu em 30 março. Desde então os casos confirmados cresceram numa proporção média de 24 casos por dia e o número de mortes o equivalente a 2,5 diariamente.

Felipe Naveca é um dos pesquisadores que participou do primeiro mapeamento genético do coronavírus na Região Norte do país. Ele explica que “não é possível evitar que essa evolução [do vírus] aconteça, pois trata-se de um fenômeno natural em todas as espécies.

“No entanto os vírus, em especial os de genoma RNA, evoluem mais rápido que outros seres. Mas, diminuindo a circulação do vírus, certamente haverá uma diminuição na velocidade de evolução viral”. É com medidas como o isolamento social, segundo ele, que pode facilitar o trabalho da Ciência na busca por uma solução definitiva para a Covid-19.

O pesquisador diz que “para enfrentar um novo inimigo é melhor conhecê-lo bem”, diz. E acrescenta que os vírus evoluem, mas não necessariamente a doença que ele causa. “Eventualmente podem haver manifestações diferentes em algumas pessoas, mas a doença basicamente será a mesma”.

Sobre os estudos para uma vacina que imunize a população do novo coronavírus, Naveca diz que o fato de o vírus estar em mutação dificulta o desenvolvimento de uma vacina, mas é mais um fator que reforça a necessidade de se monitorar a evolução viral.

“No entanto é importante deixar claro que mesmo a evolução dos vírus pode não ser suficiente para permitir que o mesmo escape da proteção de uma vacina. Para sarampo e febre amarela, por exemplo, temos vacinas eficazes há muitas décadas”, afirmou o pesquisador da Fiocruz na Amazônia.

Ministério alerta para aceleração dos casos

Movimento na Rodoviária de Manaus (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

O Ministério da Saúde reafirmou na segunda-feira (6), no Boletim Epidemiológico Especial no. 7, que há uma preparação e resposta segundo cada intervalo epidêmico para regiões com “Aceleração” dos caso. O boletim explica as ações que devem ser seguidas pelos estados e municípios com alta da curva epidemiológica, entre elas:

● Distanciamento Social Ampliado ou bloqueio geral (lockdown) para manter a capacidade do Sistema de Saúde

● Orientação sobre o uso de máscaras para a população em geral

● Ampliação da realização de testes para profissionais de saúde e trabalhadores de serviços essenciais

A reportagem da Amazônia Real enviou perguntas à assessoria de imprensa do governador Wilson Lima para saber se ele irá tomar novas medidas sobre o Distanciamento Social Ampliado, mas não tivemos respostas até o fechamento desta reportagem.

Polícia nas ruas

Nas feiras o comércio é intenso em Manaus (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

No 16 de março, após a OMS decretar a existência da pandemia de coronavírus no mundo, o governo do Amazonas adotou medidas para desestimular as aglomerações de pessoas nas ruas dos 62 municípios. A primeira delas, foi o decreto de situação de emergência na saúde pública do Amazonas com vigência de 120 dias. Entre as mudanças, foram suspensas por 15 dias as aulas nas instituições de ensino da rede estadual de ensino da capital. Nos dias subsequentes, a medida foi estendida a todos os municípios do estado. A suspensão das aulas foi ampliada até 30 de abril.

Em 1^o.de abril, Wilson Lima prorrogou até o dia 15 de abril, o decreto que restringe o funcionamento do comércio e de serviços considerados não essenciais, mantendo a suspensão do atendimento ao público em geral de todos os restaurantes, bares, lanchonetes, praças de alimentação e similares. No dia 4 (sábado), ele anunciou um novo decreto proibindo o transporte rodoviário intermunicipal e interestadual de passageiros.

Em coletiva no sábado (4), o governador não falou em determinar uma quarentena ou o Distanciamento Social Ampliado. Ele destacou que para conter o ritmo de crescimento de casos no Amazonas, proibiu o transporte de passageiros em rodovias estaduais e federais do Amazonas, assim como o transporte hidroviário nos rios da região.

Wilson Lima disse também que as forças de segurança intensificaram a fiscalização nas ruas, com a orientação de deter pessoas e fechar e multar estabelecimentos comerciais não essenciais que não estejam cumprindo com o decreto de distanciamento social, que proíbe a aglomeração de pessoas nas ruas. Desde então, a Secretaria de Segurança Pública percorre a cidade com a operação #Fiqueemcasa.

AM tem UTI´s no limite

Imagem do novo coronavírus capturada e aprimorada de cores no NIAID Integrated Research Facility (IRF) em Fort Detrick, Maryland. Crédito: NIAID

Em coletiva à imprensa, o secretário de Saúde do Amazonas (Susam), Rodrigo Tobias, disse que o sistema “ainda não entrou em colapso,” mas “que 95% dos leitos de UTI estão ocupados”. Na semana passada, ele pediu ajuda ao ministro Luiz Henrique Mandetta justificando que o sistema iria “colapsar”.

Durante a coletiva, Tobias anunciou que 400 leitos clínicos do hospital da universidade Nilton Lins serão adaptados para o atendimento de pacientes com Covid-19 que necessitam de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Hoje, nós estamos fazendo os últimos detalhes e ajustes necessários para que a gente possa, no prazo máximo de sete dias, já ocupar os 400 leitos clínicos do hospital Nilton Lins”, disse o secretário.

Outra medida que o governo tomou, devido ao aumento no números de mortos, foi instalar uma câmara frigorífica para acomodar corpos de vítimas de Covid-19 na área externa do Hospital Delphina Aziz. A Susam informou que a medida “segue todos os padrões de segurança já definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os corpos devem ser acondicionados em compartimento refrigerado, mas por segurança biológica e limitação de espaço, ficou definido que não ficarão no necrotério comum”. Os sepultamentos também exigem um número menor de familiares.

FVS orienta Fique em Casa

Pedestre com máscara em rua do centro de Manaus
(Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

Assim como o Ministério da Saúde anunciou, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) também prevê o aumento do número de casos no estado até a segunda semana de maio.

“Podemos reduzir números [de casos], evitar a necessidade de UTI, de internação, agravamento e as mortes se nós ficarmos em casa e seguirmos todas as medidas que estão sendo preconizadas pelos decretos do Governo. Se nós evitarmos nos expor. O vírus está circulando, as pessoas estão circulando com os vírus e a tendência é de agravamento”, disse Rosemary Pinto, diretora-presidente da FVA.

“Nós prevemos o aumento progressivo do número de casos a partir de agora. Então nós temos até a segunda semana de maio como um período de grande preocupação com o aumento do número de casos de Covid-19”, explica a diretora.

O que é o novo coronavírus?

Segundo a OMS, o novo coronavírus, o SARS-CoV-2, faz parte de uma família de vírus que causa infecções respiratórias e foi identificado em 31/12/19, após casos registrados na China. Ele provoca a doença Covid-19.

A contaminação pela Covid-19 se espalha de maneira semelhante à gripe, pelo ar após a tosse, coriza e a liberação de gotículas de quem está infectado.

Os sintomas são: febre, tosse, coriza e dificuldade para respirar. Procurar uma unidade de saúde é a primeira atitude a tomar neste caso.

O quadro da pessoa infectada com o coronavírus pode se agravar para uma pneumonia, o que exige a internação do paciente.

Pessoas com mais de 50 anos de idade estão mais vulneráveis, principalmente os idosos.

Quem está com o sistema imunológico debilitado e possui doenças crônicas, como as cardiovasculares, diabetes ou infecções pulmonares também pode adoecer gravemente.

Medidas como fazer uma quarentena voluntária em casa tem sido a melhor forma de combater a disseminação da doença no mundo.

Veja os números da pandemia no Brasil.

Praça do Relógio, no centro de Manaus (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)

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Reportagem Noticiosa

Sobre a matéria

Izabel Santos

É graduada em Jornalismo pela Faculdade Martha Falcão, de Manaus (AM). Tem mais de dez anos de atuação na cobertura de política e meio ambiente. Trabalhou no Jornal Amazonas Em Tempo; no Portal Amazônia, foi coordenadora de jornalismo na rádio CBN Amazônia e coordenadora de jornalismo no canal televisivo Amazon Sat. Foi indicada ao Prêmio Milton Cordeiro de Jornalismo em 2014, na categoria Internet, pela série de reportagens "Balbina, hidrelétrica da contradição". Foi a jornalista responsável pelas ações de divulgação científica da segunda fase do INCT Adapta, projeto científico sediado no Inpa que investiga o impacto das mudanças climáticas nos organismos aquáticos da Amazônia. ([email protected])