Para o ministro-relator Gilmar Mendes, o grande desafio é reconhecer que os indígenas foram historicamente espoliados de suas terras e, ao mesmo tempo, que muitos produtores rurais não podem simplesmente ser retirados das áreas em que já estão consolidados. “É cediço que todo o processo de ocupação territorial brasileiro, desde a chegada dos portugueses em 1500, é permeado dessa vergonhosa forma de apropriação do território inicial e integralmente indígena, na maioria das vezes realizada, historicamente, por meio de violência, intimidação e mortes. Essa realidade — dura e nefasta — não pode ser tolerada e repetida hodiernamente. Mas, a pretexto de promover uma reparação às comunidades tradicionais, não se pode desconsiderar o vetor de segurança jurídica presente em nossa sociedade democrática contemporânea, até para que seja preservado o direito à propriedade e à posse privadas.”
Mas ele coloca um plano de decisão em seu voto: O ministro propõe um prazo de dez anos para que a Funai finalize todos os processos demarcatórios pendentes. Conforme o voto, o órgão indigenista terá a obrigação de publicar e seguir uma lista cronológica de pedidos de demarcação;
“Esse prazo para concluir as demarcações impõe um marco temporal. Se em 10 anos a demarcação não acontecer, a gente vai perceber várias violações e violências de direitos humanos e direitos indígenas no Brasil. Primeiro se fala em marco temporal, agora se fala de 10 anos? O que é tudo isso, considerando violações dentro das terras indígenas tradicionalmente ocupadas? É muito preocupante e alarmante para nós, povos indígenas, que mantemos as florestas de pé” - Auzerina Macuxi
“Quanto mais se prolonga a permanência de posseiros em terras indígenas, maior é o risco de conflitos e violências. Além disso, pode ocorrer de o Estado não dispor de recursos suficientes para as indenizações ou de os posseiros questionarem judicialmente os valores fixados, o que pode arrastar os processos por muitos anos” - Junior Nicacio Wapichana.
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