Votos de Gilmar, Dino e Zanin contra marco temporal geram alerta em indígenas

Apesar de afastarem a tese do marco temporal, mais dois votos de ministros do STF, Flávio Dino e Cristiano Zanin, seguiram com o relator e mantêm condicionantes consideradas por lideranças indígenas como retrocesso de direitos e com riscos de conflitos nos territórios. O placar está em 3 a 0 pela inconstitucionalidade do marco temporal, derrubando a decisão do Congresso.

O ministro do STF Gilmar Mendes na Sessão plenária do STF, em 10/12/2025 - Julgamento do conjunto de quatro ações que discutem a constitucionalidade da Lei do Marco Temporal (Lei 14.701/2023) para a demarcação de terras indígenas (Foto: Antonio Augusto/STF).
Amazonia Real Publicado em: 15/12/2025 às 18:15
Por da Amazônia Real
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Para o ministro-relator Gilmar Mendes, o grande desafio é reconhecer que os indígenas foram historicamente espoliados de suas terras e, ao mesmo tempo, que muitos produtores rurais não podem simplesmente ser retirados das áreas em que já estão consolidados. “É cediço que todo o processo de ocupação territorial brasileiro, desde a chegada dos portugueses em 1500, é permeado dessa vergonhosa forma de apropriação do território inicial e integralmente indígena, na maioria das vezes realizada, historicamente, por meio de violência, intimidação e mortes. Essa realidade — dura e nefasta — não pode ser tolerada e repetida hodiernamente. Mas, a pretexto de promover uma reparação às comunidades tradicionais, não se pode desconsiderar o vetor de segurança jurídica presente em nossa sociedade democrática contemporânea, até para que seja preservado o direito à propriedade e à posse privadas.”


Mas ele coloca um plano de decisão em seu voto: O ministro propõe um prazo de dez anos para que a Funai finalize todos os processos demarcatórios pendentes. Conforme o voto, o órgão indigenista terá a obrigação de publicar e seguir uma lista cronológica de pedidos de demarcação;


“Esse prazo para concluir as demarcações impõe um marco temporal. Se em 10 anos a demarcação não acontecer, a gente vai perceber várias violações e violências de direitos humanos e direitos indígenas no Brasil. Primeiro se fala em marco temporal, agora se fala de 10 anos? O que é tudo isso, considerando violações dentro das terras indígenas tradicionalmente ocupadas? É muito preocupante e alarmante para nós, povos indígenas, que mantemos as florestas de pé” - Auzerina Macuxi


“Quanto mais se prolonga a permanência de posseiros em terras indígenas, maior é o risco de conflitos e violências. Além disso, pode ocorrer de o Estado não dispor de recursos suficientes para as indenizações ou de os posseiros questionarem judicialmente os valores fixados, o que pode arrastar os processos por muitos anos” - Junior Nicacio Wapichana.

Nicoly
Nicoly Ambrosio

É jornalista formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e fotógrafa independente na cidade de Manaus. Como repórter, escreve sobre violações de direitos humanos, conflitos no campo, povos indígenas, populações quilombolas, racismo ambiental, cultura, arte e direitos das mulheres, dos negros e da população LGBTQIAPN+ do Norte. Em seu trabalho fotográfico, utiliza suportes analógicos, digitais e experimentais para registrar cenas da Amazônia urbana e de manifestações artísticas de rua marginalizadas, como a pixação e o graffiti. Desde 2018, participa de exposições de arte independentes e coletivas em Manaus. Já expôs trabalhos fotográficos no 10º Festival de Fotografia de Tiradentes (Tiradentes/MG, 2020) e na Galeria do Largo – Espaço Mediações (Manaus/AM, 2020). Recebeu o 1º Prêmio Neusa Maria de Jornalismo (2020), o Prêmio Sebrae de Jornalismo – AM na categoria Texto (2024) e o Prêmio Megafone de Ativismo na categoria Reportagem de Mídia Independente (2025). De 2020 a 2022, participou do projeto de Treinamento no Jornalismo Independente e Investigativo da Amazônia Real.

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